segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

A sabotagem da Democracia por dentro

 

Aprender no passado as lições a colher para não repetir os idos erros no futuro é regra muito glosada, mas esquecida quando mais se justifica. E se dou mais crédito às metodologias dos historiadores dos Annales, em detrimento de uma disciplina feita de protagonistas, como se eles fossem exclusivos responsáveis pelas direções tomadas pelas civilizações nos seus pontos de viragem, vale a pena determo-nos nalguns deles para encontrarmos explicação para algumas dessas significativas transformações.

Kurt von Schleicher e Franz von Papen são dois desses exemplos: ambos ambicionaram utilizar Hitler como sua marioneta, capaz de os levar ao poder e afastar de vez a esquerda emergente, capaz de bolchevizar a Alemanha e derrubar o poder económico da sua classe social. Ambos com poder para influenciar o velho marechal Hindenburg que, como presidente, tinha o poder de empossar e demitir chanceleres, ora trabalharem a par, ora em oposição um ao outro. E sem se darem conta de como o feitiço virava-se contra o feiticeiro: julgando manipular o cabo de guerra austríaco, foram por eles manipulados e depois afastados. No caso de Schleicher até assassinado.

Embora Ventura não tenha o carisma de Hitler - embora lhe replique o narcisismo! - há nele a mesma vontade de sabotar por dentro a democracia  utilizando em seu favor os políticos dos partidos das direitas. É o caso de Rui Rio, que já deu sinal de dele se aproximar nos Açores e cujo discurso final no Congresso do PSD plasmou alguns aspetos relevantes do do seu suposto rival.

No momento atual seria bom que os políticos das direitas olhassem para a História da Alemanha entre 1930 e 1933 e dela retirassem as convenientes lições para não serem uma espécie de arroseurs arrosés.

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