quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

Deixemo-lo então funcionar, né?

 

1. Os números validam o que é conhecido da enormíssima maioria dos portugueses, mas mantém-se a teimosia idiota de uma minguada franja de negacionistas: as vacinas protegem havendo fortes probabilidades de chegar ao hospital, e até ficar entubado nos cuidados intensivos, a quem delas se tiver escusado.

Quantos dos que aprendem a verdade à custa de ficarem doentes manifestam depois o arrependimento por terem preferido os dislates das fake news  das redes sociais? Embora a raridade com que assumem publicamente o engano denuncie a vergonha de assim se exporem, muito haveria a ganhar com esses sinceros testemunhos como forma de mais rapidamente convencerem os descrentes igualmente eivados da sua fútil caturrice. Mas quando se ouve uma responsável da Iniciativa Liberal a queixar-se da falta de «evidências científicas» para secundar as medidas restritivas decididas pelo governo para estes dias, compreende-se que até nos mais modernaços dos prosélitos das direitas tudo serve para negar o que a lucidez elucida no nosso dia-a-dia.  E que, por aqueles lados, a Ciência pouco parece ter a ver com números.

2. João Leão apareceu a ufanar-se dos mais recentes indicadores da economia, agora divulgados pelo INE, e a SIC logo deu tempo de antena a um sujeito de uma qualquer Confederação de PME’s, que diz do ministro pior que Maomé nem sequer se atreveria a proferir em relação ao chouriço.

Convenhamos que quem quer ter um negócio arrisca-se a ter prejuízos em função das circunstâncias, umas devidas à sua deficiente leitura das necessidades do mercado, outras vezes por ocorrerem outras razões para a falência tornar-se um facto. Mas essa é consequência de se viver no capitalismo, sendo crível que quase todos quantos se sintam representados por aquele Pisco até se persignem de horror perante a palavra socialismo.

Para quem aspira ver o capitalismo definitivamente morto e enterrado, como é o meu caso, fica o aparente paradoxo de tal gente só vir queixar-se dos poucos apoios do Estado, quando as coisas lhes correm mal, nem sequer querendo que ele se intrometa no seu “laissez faire, laissez passer”, quando os lucros se lhes amontoam.

Se é para vivermos numa sociedade capitalista ao gosto dos liberais com menos ou mais iniciativa, então que não venham pedir dinheiro a todos nós - os contribuintes para o Estado - quando as coisas lhes correm mal. Se é para vivermos numa sociedade de mercado, deixemo-lo então funcionar, não é?

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