1. Tivesse usufruído da conveniente disponibilidade e já aqui teria vindo a comentar aquilo que é um dos mais reveladores episódios da vida política portuguesa por estes dias: as reações destemperadas de Rui Rio a respeito da captura de João Rendeiro na África do Sul. É certo que outros já opinaram sobre essas declarações, com a devida contenção inerente aos seus cargos, mas o que melhor transmitiu aquilo que eu próprio pensei foi António Filipe, um deputado do PCP por quem tenho particular respeito e consideração.
O que disse ele e aqui me apresso a subscrever? Que Rui Rio muito revela sobre si mesmo ao desrespeitar uma instituição, a Polícia Judiciária, sobre a qual não se conhecem motivos para duvidar da forma íntegra como cumpre a sua missão. É que não só dá mostras de agastamento pelo transe atualmente vivido pelo banqueiro trafulha na África do Sul, como até sugere que, fosse ele primeiro-ministro, cuidaria de decidir onde, quando e como os criminosos em fuga seriam (ou não!) apanhados. Daí o processo de intenções, que associou a António Costa como se este tivesse da governação os mesmos tiques ditatoriais. Porque sabe bem o que faria, acaso estivesse nas suas funções, julga-o capaz de demonstrar a mesma perniciosa conduta. É mesmo caso para reconhecer que o mau julgador por si mesmo se julga.
2. Aparentemente até poderá parecer que replico o modo de pensar de Rui Rio, quando olho para a prisão domiciliária a que foi sujeito Manuel Pinho e a atribuo a propósitos conspirativos. Parece de facto, mas não é! Porque, haja eleições à vista e, tal qual constataria António Vitorino, é festança a que nunca se exime a Dona Constança. Que neste caso assume a forma do juiz Carlos Alexandre e dos seus titereiros no Ministério Público.
É verdade que poucos eleitores associarão o atual Partido Socialista aquele que costumam caricaturar negativamente, mas tanta coisa bem feita produziu no tempo de José Sócrates. Mas como há gente crédula, que se deixou ir na cantilena de alguns jornais e televisões sobre a sua suposta agremiação de malfeitores, quer o juiz de Mação, quer os seus habituais parceiros, tudo fazem para segurarem esses poucos votos desfavoráveis ao PS, impedindo-os de por mérito de António Costa, para ele se aprestam a transferir.
Daí que nenhuma similitude exista entre os casos de João Rendeiro ou de Manuel Pinho, muito embora a presunção de inocência de ambos seja condicionada pela pressentida culpabilidade. Só que, no primeiro caso, o calendário terá funcionado casualmente, enquanto no segundo os suspeitos do costume forçaram-no de uma forma, que Sá Fernandes tem motivos para crer quanto à sua ilegitimidade moral.
Há muito que os que têm da Justiça uma versão zarolha denunciaram o seu ambíguo decoro...
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