Um Outro Mundo É Necessário ou O Mundo Segundo Joseph Stiglitz é um documentário de hora e meia, realizado por Jacques Sarasin, que deveria ser de visão obrigatória para todos quantos ainda teimam na visão neoliberal das relações económicas entre as nações ou dentro delas próprias.
O filme inicia-se em Gary, aonde o protagonista, tornado famoso pelo Nobel da Economia, nasceu em 1943, quando aquela (então) grande cidade do Indiana abrigava as maiores metalúrgicas da época. Tinha sido, aliás, para tal objetivo, que a cidade nascera em 1906.
Filho de democratas, Stiglitz desde cedo ouvira discutir as grandes questões políticas à mesa das refeições e iria ter nesse caldo cultural o início de uma curiosidade que, tantos anos depois, o trará de volta para analisar os efeitos ali causados pela mundialização. O que encontra é uma cidade decadente, sem comércio local, que perdeu, entretanto 40% da sua população, ainda por cima a mais jovem e qualificada, porque a falta de investimentos tornaram-na num espaço de desesperança. Um cenário parecido com o que se converterá o Portugal de passos coelho e de vítor gaspar se eles não forem rapidamente empurrados para o tal caixote do lixo da História.
Tentando contrariar a ruína presente, o presidente da câmara procura investidores estrangeiros, mas as esperanças reduzem-se a possíveis indústrias chinesas e indianas dispostas a aí instalar cadeias de fabrico de peças para produtos a serem montados nas suas distantes origens. Ou seja exatamente o oposto do que sucedia no passado, quando as peças de pouco valor acrescentado eram fabricados em países subdesenvolvidos para que os sofisticados produtos finais saíssem das empresas europeias ou norte-americanas.
Mas Stiglitz também se interessa pelos exemplos da ação nefasta da mundialização noutras paragens: na Índia os camponeses suicidam-se aos milhares por não conseguirem competir com os preços dos produtos agrícolas altamente subsidiados pelos países desenvolvidos; no Equador a Texaco andou a extrair hidrocarbonetos e gás natural e a poluir recursos hídricos, que condenam zonas importantes do país à total desertificação por neles se tornar impossível a subsistência; no Botswana, as populações bosquímanas são expulsas dos seus territórios tradicionais pelo interesse ganancioso das grandes multinacionais diamantíferas.
O que ressalta da abordagem de Stiglitz é o comportamento criminoso das multinacionais apenas interessadas em maximizarem os lucros dos seus acionistas em detrimento dos prejuízos causados nas populações das regiões sujeitas à sua exploração desenfreada.
Rafael Correa, o corajoso presidente do Equador, testemunha a sua opinião sobre o tema, lembrando a importância de levar por diante políticas benéficas para a maioria dos seus concidadãos por muito que desagradem às multinacionais.
Recordemos que, embora legitimamente eleito sucessivamente para a mais alta magistratura do seu país, Rafael Correa não se livra de ser apodado de ditador pelos comentadores ocidentais demasiado incomodados com a sua irreverência perante as multinacionais. É o preço por não se conformar com o esbulho das riquezas naturais do seu país, bem espelhadas no exemplo das tentativas de norte-americanos sem escrúpulos capazes de patentearem como invenções suas as metodologias de cultivo tradicionais dos índios equatorianos para procurarem receber direitos ilegítimos do conhecimento que roubaram.
Ajuíza Stiglitz: os recursos naturais deveriam servir para melhorar a qualidade de vida das populações dos países subdesenvolvidos e, pelo contrário, elas continuam a sobreviver em condições precárias, enquanto os monopólios lucram obscenamente com a exploração desenfreada de tais riquezas.
Daí a importância por ele atribuída à alteração profunda da ordem económica mundial com o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial a terem de abandonar os modelos de capitalismo selvagem que tão prejudiciais se têm mostrado.
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