terça-feira, 18 de dezembro de 2012

POLÍTICA: e abatem-se cavalos lusitanos!


Quando a Depressão implicou a miséria mais desesperada para os norte-americanos, um escritor com um E bem grande (Horace McCoy) criou um romance tão belo quanto terrível era o ambiente em que o situava. Os Cavalos Também se Abatem, era o seu nome.
Invocando a notícia de estarem a ser abatidos os cavalos lusitanos por impossibilidade de sua manutenção pelos criadores de tal estirpe, o jornalista do Expresso Nicolau Santos foi resgatar esse título para apresentar uma crónica igualmente eloquente sobre um país a ser destruído por gente que, depois de ser erradicada dos seus poderes, terá deixado uma herança de difícil remissão.
Fica aqui a transcrição de tal texto, que vale a pena ser divulgado por todos quantos acreditam na importância de gritar «Acordai!»:
Este ano já foram abatidos em Portugal 2803 cavalos da raça puro sangue lusitano. Não foram abatidos por doença, mas porque os seus criadores não conseguem vendê-los e também começam a não ter meios para os alimentar. Por isso, entre vê-los morrer à fome ou dar-lhes uma morte condigna, os criadores optam pela segunda via.
O abate de cavalos de sangue lusitano é uma metáfora para o país. Estamos já a entrar na fase de começar a sacrificar os que nos estão mais próximos: animais de companhia, de estimação ou de criação - o que vai a par com o crescente aumento do número de idosos que são deixados nos hospitais pelas famílias ou de crianças abandonadas à porta de instituições de caridade ou dos sem-abrigo que começam a proliferar nas cidades.
Estamos a evoluir da vida minimamente confortável para a pobreza e da pobreza para a indigência. Estamos a ver o Estado passar do seu papel de prestador de apoios sociais para o assistencialismo. E estamos a assistir à emergência da caridade em detrimento dos direitos dos cidadãos que supunham viver num Estado de pleno direito.
O próximo ano será o da morte da economia. E, como escreveu Pacheco Pereira, do não retorno para milhares de famílias, que estão a ver o seu rendimento cair drasticamente ou a ser lançadas no desemprego e que nunca mais conseguirão voltar a ter os padrões de vida que usufruíam até há muito pouco tempo ou mesmo a conseguir um emprego, por precário que seja.
Se já chegámos ao ponto de abater cavalos puro sangue lusitano, temos de nos preparar para o tsunami social que vai devastar o país em 2013. Será o ano da total desesperança, do desespero, da impotência - mas também da indignação e da revolta. Construir algo a partir deste quadro vai demorar décadas. 



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