No programa canadiano «Le Point» , transmitido pelo canal TV5 mostrou-se o caso dramático de Shriya Shah, empresária de Toronto decidida a subir ao cume do Evereste como se se tratasse de um desafio identitário já que, de origem nepalesa, ela vivera em Katmandu durante a infância e a adolescência.
De nada serviu, que a tentassem dissuadir invocando a sua inexperiência. Apostar em conquistar a montanha mais alta do mundo sem ter feito alpinismo até então, constituía para o marido e os amigos uma intenção absurda.
Mas quem conseguia opor-se à determinação com que ela decidiu levar por diante o projeto? Tão convencida se sentia de tal plano, que passou meses a preparar-se em caminhadas pelas florestas e pequenas montanhas das redondezas da grande metrópole canadiana.
Reunidos os 60 mil dólares para contratar sherpas e comprar material aí tínhamos ela nas faldas do Everest na Primavera passada, juntando-se à enorme multidão, que estava decidida a imitá-la. E esse é um dos aspetos mais impressionantes da reportagem: o «turismo radical», que consiste em levar pessoas impreparadas até ao cume, assumiu uma tal dimensão, que eram dezenas os que se enfileiravam para atacarem a parte final da subida no fatídico 18 de maio, quando Shriya levaria por diante a sua tentativa. Contra todas as regras de segurança, eram dezenas os que subiam em fila indiana como se caminhassem para uma qualquer atração da Eurodisney. Ademais, como era o caso dela, acompanhavam-nos muitos guias inexperientes, que, sem outro emprego, vêem nessa atividade de apoio aos alpinistas uma fonte de rendimento.
Shriya não teve a sorte dos principiantes: lenta a subir, foi consumindo o oxigénio disponível e atrasando-se em relação ao horário recomendado para atingir o topo. As rajadas de vento e as temperaturas abaixo dos –40ºC não a dissuadiram de continuar em frente, quando o dono da empresa que contratara lhe propôs que voltasse para trás. E lá conseguiu chegar ao topo e aí permanecer durante meia hora.
A morte sucederia na descida quando já sem oxigénio e exausta foi deixada já inconsciente agarrada à linha de segurança, sendo vista por outros alpinistas que subiam e desciam já a encontrando morta.
O corpo dela só seria resgatado dez dias depois, e depois incinerado na presença da família.
O que este exemplo demonstra é o perigo de se teimar num objetivo, que não pode ser alcançado, ou que, se o for como sucedeu com Shriya, conduzirá inevitavelmente ao pior dos desenlaces.
E, quando se escolhem acompanhantes sem as qualificações necessárias para corresponder a este tipo de situações de crise estão criadas as condições para o mais terrível dos insucessos.
Vistas as coisas se mudarmos Shriya pelo fundamentalismo de Passos Coelho e os tais acompanhantes pelos senhores da troika, que só têm facultado receitas contrárias às suas supostas previsões, bem podemos constatar como as leis, que regem as atividades radicais se aplicam como uma luva à política...
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