Um artigo de António Carlos dos Santos publicado na edição de Novembro do «Le Monde Diplomatique» («Um orçamento de Merkel e de Sade») esclarece quem duvida da natureza neoliberal das políticas de passos coelho, sob a alegação de estar a ser contrariada a lógica de tal corrente ideológica pressupor sempre a redução de impostos: os meios escolhidos pela Proposta de Lei de Orçamento 2013 afastam-se da visão tradicional das políticas neoliberais, normalmente associadas a reduções fiscais. Mas essa visão é redutora. O neoliberalismo é pragmático (os fins justificam os meios) e não é contrário à intervenção estatal nem a regimes autoritários. Pelo contrário, é-lhes favorável se tal intervenção favorecer as forças mercantis.
Mas, mais atrás o professor considerava quais os verdadeiros fins das políticas deste governo: a estratégia do executivo visa empobrecer o país. Visa ainda, de forma latente, proceder a uma redistribuição do poder social, do rendimento e da riqueza dos estratos mais pobres e médios da sociedade portuguesa a favor do capital financeiro.
Na conclusão do seu artigo António Carlos dos Santos conclui que a decência exige que os governantes representem quem o elegeu e não os credores. Pede-se aos políticos decentes que trilhem novos caminhos, caminhos que não visem empobrecer o país, que não assentem na economia do medo, que não vendam o património público ao desbarato, que não tornem a democracia mais frágil e não convertam os direitos laborais, sociais e culturais em meros direitos semânticos. Numa palavra: caminhos que não visem vingar-se do 25 de abril.
É que, no final, os mentores do processo revanchista em curso (PREC) regressarão à sua confortável vida, alguns em países do centro, deixando em pantanas a «parvónia», este sítio periférico mal frequentado e demasiado estreito para a sua genialidade. A culpa nunca será deles, mas do ignaro povo que, apesar de os ter elegido, nunca os compreendeu.
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