Que milagres medievais fizeram as catedrais tocarem os céus? A exemplo das pedras, as vidas dos construtores empolgavam-se para chegarem à dimensão das suas obras-primas.
«O Desafio dos Construtores de Catedrais» é um belíssimo documentário em três dimensões sobre os segredos contidos na catedral gótica de Estrasburgo. Trata-se de uma extraordinária epopeia sobre uma construção, que se prolongou por mais de trezentos anos e considerada, até ao século XIX, uma das mais belas do mundo cristão.
Até então foi o mais elevado monumento europeu: a sua flecha, que ascende a 142 metros de altura parece interligar-se com os céus desde a eternidade e emocionou o jovem Goethe com a elegante fachada de grés rosado e a célebre rosácea que parece incendiar-se em certos crepúsculos. Ela corresponde a uma indiscritível desmesura em que se misturaram inspiração, génio arquitetónico, incêndios, peste negra e intrigas.
Desde o início a Obra de Nossa Senhora, venerável instituição sempre disputada entre a Igreja e a cidade, vela pela memória atormentada do monumento com o mesmo rigor outrora exercido sobre o orçamento necessário para o seu imenso estaleiro. E foi nos seus arquivos que Marc Jampolsky estudou aprofundadamente a história deste milagre de equilíbrio e a dos seus construtores, desde o visionário Erwin von Steinbach, autor da fachada a partir de 1284, até Jean Hültz, que concluiu a flecha com um delírio virtuoso.
O documentário inclui essa investigação, reconstituições, entrevistas com historiadores e artesãos e imagens de síntese: o filme conta as vidas dedicadas à obra e penetra na especificidade dos seus diferentes misteres - contramestres, carpinteiros, escultores e talhadores de pedra vindos de todos os cantos da Europa.
Trata-se, pois, de uma prodigiosa saga e de uma visita muito exclusiva a um emblemático monumento europeu.
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