No excelente jornal que é a versão portuguesa do «Le Monde Diplomatique», a diretora Sandra Monteiro recorda algo, que é esquecido por muita gente: a chamada crise das dívidas soberanas não foi causada pelo despesismo dos governos (apesar da direita explorar demagogicamente até à exaustão esse suposto pecado de José Sócrates, que até tratara de recuperar o desequilíbrio herdado de Durão Barroso e Santana Lopes!).
Recordemos que, quando a Lehman Brothers faliu em Setembro de 2008, a ordem dada aos governos europeus pela Comissão Europeia foi que se lançassem grandes fluxos monetários na economia. E devidamente apoiado pelos ricardos salgados, pelos ulrichs e demais banqueiros, José Sócrates levou por diante essa diretiva dimanada de Bruxelas. Desconhecia que seriam eles quem rapidamente lhe tirariam o tapete debaixo dos pés, quando a direita neoliberal internacional viu na conjuntura a oportunidade para aplicar um programa ideológico, que temeu impossível de levar por diante doravante. E de que esses banqueiros se converteriam rapidamente em lugares tenentes bastante convictos.
Está, pois, em causa o oportunismo de quem mais defende os responsáveis pela crise de 2008 querendo garantir-lhes terreno fértil para que continuem a prosperar em detrimento da imensa maioria dos cidadãos. Diz Sandra Monteiro no artigo, que nos serve aqui de referência («Austerizados, uni-vos!»):
A pretexto de uma dívida pública criada pela resposta à crise originada no sistema financeiro, foi-se impondo um estado de exceção e de necessidade que tudo parece justificar:
· do desemprego como programa até às reduções de salários e pensões;
· da venda e concessão a privados de bens e serviços essenciais
· à aceitação de uma suspensão da democracia que usurpa os instrumentos de governação sem os quais uma comunidade política não pode ser sujeito das suas escolhas.
Porque a democracia constitui uma aspiração inalienável da comunidade humana o plano desta direita, que tem passos coelho como sua principal marionete, está condenado ao fracasso. Mas até lá, quantos sofrerão pelos crimes colaterais inerentes a este roubo legalmente sancionado por um resultado eleitoral conjuntural, que já perdeu totalmente o seu sentido.
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