Quer o «Público», quer o «Expresso», têm dedicado particular atenção aos contrastes surgidos na sociedade portuguesa nestes últimos quarenta anos, ou seja entre o estertor do marcelismo e o mortiço crepúsculo de uma versão colaboracionista do impasse a que chegou o capitalismo financeiro internacional.
A revisita de todo esse intervalo histórico tem vários motivos de interesse e o menor não é o do estado de alma por que passaram os portugueses durante esse trajeto. Pode-se então constatar que jamais se atingira este nível de desesperança quanto à expectativa de se vir a viver num mundo melhor. Nem sequer no fim da longa noite do fascismo se chegara a este desânimo de descrer em versões mesmo que mitigadas de utopia.
Mas, paradoxalmente, também nunca se viu tão poucos jovens a protestarem na rua contra este estado das coisas.
Há quarenta anos as Associações de Estudantes das escolas secundárias e das Universidades fervilhavam de vontade de rumar contra a corrente. Agora, o crato consegue mobilizar contra si os professores, mas merece a maior das indiferenças daqueles que, porém, já têm bilhete reservado nos voos para destinos mais ou menos longínquos, onde poderão ter a possibilidade de arranjarem algum emprego aqui negado.
É claro que subsiste a esperança de ver despertada essa juventude adormecida, apenas vislumbrada na que frequenta as organizações partidárias para se candidatarem a «boys» de «jobs» convenientemente distribuídos pelos seus tutores. Mas, quando descobrirem que o Estado minguado pelos seus próprios dirigentes partidários, já não serve de caminho certo para a ascensão na escala social, perderão os ardores arrivistas. Esperemos que, então, se somem aos demais e exijam um país aonde a redistribuição da riqueza não atinja as desigualdades gritantes do presente. E que esta abulia dê lugar ao entusiasmo contido de uma mudança iminente...
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