Neste sábado foi eloquente a total oposição entre o que as imagens televisivas expuseram sobre dois presidentes: o atual a defender-se da indelével mancha no seu currículo (entre muitas outras, se pensarmos em Salgueiro Maia ou José Saramago para só falar das mais indecorosas!), que foi a votação na ONU, quando era primeiro-ministro e alinhou objetivamente com o regime do apartheid; e Mário Soares, a comemorar o seu aniversário em mais uma grande jornada de luta, desta feita ao lado dos trabalhadores dos Estaleiros de Viana do Castelo.
Enquanto cavaco se mostrava agastado com mais uma demonstração de como o passado o acaba inevitavelmente por apanhar e prenunciar a péssima imagem, que deixará para a História dos titulares do mais alto cargo da República, Soares continua a alimentar a sua imagem de eterno lutador contra todas as formas de injustiça.
Razão tinha, há algumas semanas, Carlos do Carmo para considerar como uma das piores coisas, que lhe tinham acontecido na vida, a de suportar o filho do gasolineiro de Boliqueime tantos anos no poder. Não só para ele, mas também para a maioria dos que viveram a esperança intensa da Revolução de Abril, continua a ser inconcebível como alguém com as características deste político - claramente uma emanação de algumas das piores características do salazarismo (a incultura, a arrogância, o preconceito, a falta de sentido do ridículo) - conseguiu a proeza de fazer dois mandatos completos como primeiro-ministro e outros tantos como presidente da República.
Podemos, é certo, congratularmo-nos com a justiça, que a já referida História lhe prestará, mas os danos por ele causado á vida de tantos portugueses, já ninguém lhos aliviará. Tanto mais que, em contraponto, sabemos bem como muitos dos amigos de cavaco foram enriquecendo obscenamente à conta dos BPN’s, de que ele se mostrou resoluto facilitador...
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