sábado, 7 de dezembro de 2013

IDEIAS: Andamos bem precisados de Marx

Esta semana o Presidente Obama discursou sobre os efeitos perversos das desigualdades sociais no crescimento da economia norteamericana: Desde 1979, quando terminei o liceu, a produtividade da economia americana subiu mais de 90%, mas os rendimentos da família típica aumentaram menos de 8%. E: No passado, o salário do diretor de uma grande empresa era 20 ou 30 vezes o de um trabalhador médio. Hoje é 273 vezes mais.
Esta insuspeita constatação do atual ocupante da Casa Branca confirma a convicção dos que acreditam que, a exemplo de Mark Twain em certa altura da sua movimentada vida, o pensamento marxista está muito longe de ser declarado morto por muito que o afiancem uns quantos apressados urubus.
É certo que, com a queda do muro de Berlim, fracassou um certo ideal coletivista, igualitário e proletário em proveito de uma espécie de plebiscito universal do capitalismo em que o ideal de liberdade suplantaria o de igualdade e os valores da competição tornariam vetustos os da solidariedade. Para quem promovia a perspetiva imprudente de anunciar o fim da luta de classes, que equivaleria ao fim da própria História, o capitalismo revelar-se-ia um sistema capaz de se autorregular de forma miraculosa evitando todos os excessos.
Que ideia mais falaciosa! Na realidade, em 1989, na altura da sua máxima consagração, o capitalismo estava em séria crise nos próprios EUA, onde a luta de classes se aproximava progressivamente das previsões anunciadas por Marx. Pode-se dizer que terá sido essa rendição sem glória da União Soviética aos valores capitalistas, que salvou esse sistema de se confrontar mais cedo com as suas contradições.
Hoje continua a ter pertinente atualidade o que Marx e Engels escrevem no 1º capítulo do seu «Manifesto»:  A história de toda a sociedade até aqui é a história da luta de classes.
Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, burgueses de corporação e oficial, em suma, opressores e oprimidos, estiveram em constante oposição uns aos outros, travaram uma luta ininterrupta, ora oculta ora aberta, uma luta que de cada vez acabou por uma reconfiguração revolucionária de toda a sociedade ou pelo declínio comum das classes em luta.
A luta de classes continua a existir em todas as greves, lutas e manifestações diariamente protagonizadas por milhões de pessoas inconformadas com as injustiças de que são vítimas.
Bem podem os opressores tentar calá-la ou desvirtuá-la com as estratégias de empolamento das reações anarquistas, individualistas ou niilistas, procurando assim generalizá-las a toda a contestação ao presente estado de coisas. Que só favorece quem continua a enriquecer à custa do empobrecimento galopante da maioria dos cidadãos. Ou facilitando ao máximo a divulgação das mensagens religiosas, invariavelmente tendentes a prometerem numa vida futura, aquilo que é negado aos crentes na sua vida presente.
Mesmo reconhecendo alguma razão ao filósofo de direita Raymond Aron, que atribuía a Marx apenas a interpretação do fenómeno capitalista sem propor uma representação precisa do que seria o regime socialista, temos de convir na imprescindibilidade do pensamento marxista para entender os mecanismos económicos pelos quais existe a acumulação de capital numa minoria cada vez mais reduzida e uma condenação á pobreza da imensa maioria da população. Para que, entendendo o sucedido, consigamos ser mais argutos na criação de um outro tipo de sociedade aonde a igualdade e a solidariedade prevaleçam sem causarem prejuízo à liberdade.


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