Hoje, numa das suas intervenções na Assembleia da República, a deputada socialista Sónia Fertuzinhos queixava-se da dificuldade cada vez mais notória em discutir os factos com os eleitos pela maioria, porque os mesmos indicadores são lidos de forma completamente distinta consoante se está na maioria ou na oposição. E, no entanto, eles deveriam ser objetivos e inquestionáveis.
Aconteceu com os números agora conhecidos do Banco de Portugal, que são o desmentido mais óbvio do “sucesso” das atuais políticas governamentais. Uma economia, que sai da recessão, apenas porque o consumo interno - tão prejudicado pela coligação no poder - subiu, só dá sinais de vida graças ao impedimentos de cortes ainda mais abusivos aos reformados e aos funcionários públicos pelos juízes do Tribunal Constitucional.
Embandeirar em arco com perspetivas de um crescimento de 20 mil postos de trabalho para o próximo ano só demonstra a hipocrisia de uma direita responsável pela destruição de muitas dezenas de milhar de empregos desde que se alcandorou ao desejado pote,
Mesmo contando com a complacência das análises dos colaboradores de carlos costa - que, ainda assim, só poderão ir manipulando os números de forma limitada tão enfaticamente eles se impõem! - adivinham-se dias difíceis para passos coelho e seus sequazes. Também à direita os amanhãs tenderão a desencantar, mais do que a cantar!
Mas, mesmo quando hoje existe criação de emprego em Portugal, sabemos o que isso significa: precariedade e remunerações obscenamente baixas, como se comprovam com ofertas de trabalho a engenheiros por valores equivalentes aos do salário mínimo nacional.
Quando se ouvem governantes a encherem a boca de mentiras - a de acreditarem numa economia não baseada em baixas remunerações - só podemos confirmar quanta falta de vergonha vai naquelas criaturas. As tais que acreditaram nas virtualidades de verem os outros saírem da sua “zona de conforto” para deixarem de constituir um fardo à sua estratégia.
São lamentáveis os números agora conhecidos num estudo encomendado pela seguradora Zurich em como, de entre os jovens de doze países objeto dessa investigação, os portugueses eram, a seguir aos russos, os mais convencidos a emigrarem como forma de assegurarem a sua sobrevivência. 57% de entre eles assumiram a inevitabilidade dessa alternativa…
Igualmente eloquente outro estudo, publicado pelo Observatório sobre Crises e Alternativas, segundo o qual os trabalhadores portugueses perderam em média 2,3% dos seus salários no último ano e deram ao empregador mais uma semana e meia de trabalho sem qualquer compensação. Que se está a verificar uma passagem direta de rendimentos dos trabalhadores para os acionistas das empresas demonstra-o outro indicador: os patrões embolsaram mais 2,1 a 2,5 mil milhões de euros do que no ano anterior!
Mas esse empobrecimento de uns para benefício direto de outros também tem efeitos perniciosos na sustentabilidade da Segurança Social: a redução do pagamento do trabalho suplementar e nos feriados, implicou uma perda de receitas entre 66 e 252 milhões de euros.
E no entanto, apesar desta realidade trágica, os deputados da maioria falaram hoje com a miopia de quem vislumbra miragens aonde só continua a progredir a terra queimada...
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