segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

IDEIAS: mas já se pressente quem ganhou a guerra?

Depois de ter sido sucessivamente anunciada ao longo de um século, a morte do marxismo pareceu confirmar-se quando o muro de Berlim foi derrubado. Até os mais convictos dos seus defensores terão ficado abalados com essa brutal implosão dos regimes do leste europeu. E alguns infletiram, de tal forma, as suas crenças que, de obstinados prosélitos do marxismo-leninismo se converteram em não menos desvairados defensores das formas mais radicais do capitalismo.
Basta olhar para muitos dos mais arreigados defensores da atual receita troikista para nela vislumbrarmos antigos e empenhados militantes do MRPP, da UDP e de outros grupúsculos  radicais do período revolucionário.
E, no entanto, o castelo de cartas em que assentava o «socialismo real» já há muito entrara em incurável agonia, através da conjugação de fatores internos e externos. Entre os primeiros avultava a «estagnação brejneviana», forma eufemística para caracterizar a incapacidade de transformação económica e política do mundo soviético de forma a ajustá-lo aos requisitos das economias avançadas do final do século XX. Externamente, os regimes do Pacto de Varsóvia foram confrontados com uma corrida aos armamentos, que se revelou ruinosa, e com as campanhas ideológicas conjugadas entre a cúpula norte-americana, constituída pelos «falcões» em torno de reagan, e um Vaticano dominado por um anticomunista particularmente ardiloso (joão paulo II).
Enquanto perdurava esse embate final entre duas formas de imperialismo, a maioria dos Partidos Comunistas ocidentais - constituindo o português uma das raras exceções! - ia pendendo para uma adaptação descaracterizadora da sua essência fundadora, primeiro com o eurocomunismo de Carrillo e de Berlinguer, e depois com as suas viragens social-democratas, que os tenderia a parecerem mais aceitáveis aos olhos dos eleitores encantados com os benefícios de um aburguesamento, que thatcher prometia enquadrar numa espécie de “capitalismo popular”.
Quando, um após outro, começaram a cair os honecker, os ceausescus , os zhivkov , só alguns nostálgicos mais empedernidos terão soltado umas lágrimas de crocodilo.
É verdade que, no meio da euforia geral, os gritos de dor e de alarme foram abafados: o coro de entusiasmo dos “libertados” pelo súbito e ilusório acesso às delícias do consumismo era tal que os mortos por conflitos étnicos ou por mera incapacidade de adaptação a um mundo do «cada um por si e o mercado contra todos» se tornaram danos colaterais de uma “nova era” caracterizada pelo fim da guerra fria e do equilíbrio do terror nuclear.
Durou muito pouco a ilusão de tal utopia: a nova ordem mundial, que deveria trazer a paz e a prosperidade, revelou um insuspeito potencial de malignidade. A ausência de um rival, que lhe contrabalançasse os excessos, possibilitou a transformação do comércio sem entraves numa nova realidade feita de sobre-exploração e de humilhação dos mais fracos, sejam eles pessoas, famílias, grupos étnicos ou nações.
Os novos regimes estabelecidos a leste foram construídos na base da corrupção e de operações mafiosas, muito de acordo com as velhas práticas do despotismo oriental. Por seu lado os países subdesenvolvidos, espoliados dos seus recursos, viram agravados os seus endémicos problemas de fome, de pandemias, de conflitos tribais, de transformação de crianças em soldados e em escravos sexuais e em inúmeros outros sintomas de miséria, que resultam em esperanças de vida muito curtas.
Hoje, as desigualdades crescem por todo o lado!
A princípio a social-democracia e o socialismo democrático pareceram emergir como forças políticas mais capazes para reformarem as relações capitalistas pelo seu interior, de forma a restringirem a especulação e potenciarem a capacidade de concertação social. Mas depressa foram varridos por outras de cariz abertamente neoliberal, que vinham dispostas a pôr em causa todas as conquistas sociais conseguidas com as lutas de milhões de pessoas em sucessivas décadas.
É esta a fase de um processo dinâmico e acelerado, que atualmente testemunhamos. Mas a maré, quando avança para a areia seca, acaba inevitavelmente por recuar. E notam-se muitos sintomas dessa viragem prestes a verificar-se. Quem julga que a guerra já se definiu pelo presente resultado de sucessivas batalhas, tende a equivocar-se...


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