sábado, 21 de dezembro de 2013

LITERATURA: Joyce Carol Oates e a escrita bulímica

Aos setenta e cinco anos Joyce Carol Oates é uma das mais produtivas escritoras norte-americanas: continuando a publicar em média dois romances e uma trintena de contos por ano, sem contar com os seus extensos artigos no «New York Review of Books», ela já conta com mais de uma centena de livros publicados e não dá mostras  de refrear a escrita.
A sua necessidade é quase biológica: mesmo quando viaja, ela não deixa de escrever no avião ou no percurso de táxi entre o aeroporto e o hotel. Seria impossível imitar Philip Roth que, ainda há pouco, anunciou o termo da sua carreira literária. Em carteira tem dossiers com muitas ideias para romances, alguns com resumos de trinta ou quarenta páginas.
E não se pense, que os seus livros têm lombadas estreitas: muitos ultrapassam as 500 páginas e o romance, que ela está quase a lançar no seu país natal, ultrapassa as 900.
Mulher frágil, que quase parece reduzir-se a pele e osso e mal se consegue fazer ouvir, ela orgulha-se de nunca ter recorrido a assistentes para a ajudarem a perscrutar documentos ou a entrevistar pessoas para conseguir elaborar as suas intrigas complexas e convincentes.
Além do ofício da escrita ela também dá aulas em Princeton - o conceituado Jonhathan Safran Foer foi um dos seus alunos! - e prepara-se para as replicar em Nova Iorque a partir de 2014.
Nos tempos livres ainda toca piano, faz caminhadas e jardinagem, sem se esquecer de dar atenção ao esposo e ao gato.
Em França acaba de sair «Mudwoman» com a história de uma bem sucedida presidente de uma universidade, incapaz de se libertar das dolorosas memórias infantis, quando se vira abandonada.
O tema interessou-a porque, mesmo havendo um número cada vez maior de mulheres a alcançarem lugares de topo, ainda se confrontam com inúmeras dificuldades no contexto de uma sociedade que nunca deixou de ser misógina e conservadora.
Mas a própria Joyce serve de modelo para essa personagem, já que também nasceu numa pequena quinta e aprendeu a escrever na única sala de uma pequena escola desse mesmo Estado de Nova Iorque.
Se a minha obra é por vezes violenta deve-se a inspirar-me no que me rodeia. Falo da realidade, das dificuldades, de tudo o que as pessoas são obrigadas a suportar, das surpresas que as esperam a dado momento das suas vidas. Muitas vezes é trágico. Mas com uma tremenda vontade de lutarem, de ultrapassarem todas as dificuldades. Ela confessa a veneração por Poe, Hemingway e Faulkner e gosta de mostrar o seu local de escrita numa das divisões da sua casa com vista para o jardim.
Vejo pássaros e flores. Há também um pântano. Existem dois tipos de escritores, os que escrevem a olhar para uma parede e os que não dispensam a vista do que alcançam da sua janela. É o meu caso. Inspiro-me. Prefiro o silêncio, a calma. Não ouço música enquanto escrevo. Exceto os cantos dos pássaros.
Às vezes visita os Obama na Casa Branca, na qualidade de amiga do casal. Mas se aprecie a simpatia do Presidente inquieta-a sabê-lo capaz de autorizar os voos de drones com o propósito de matarem pessoas. Mas eles acabam por lhe servir de material de pesquisa para um dos eixos fundamentais da sua criatividade: No fundo tento explorar o que se passa no interior das pessoas, dos seus combates e das suas vitórias.


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