Na sua intervenção dominical na RTP1 José Sócrates deu hoje o devido ênfase à Exortação do Papa Francisco, pela qual este convida todos os cristãos a condenarem o capitalismo neoliberal, que tão pernicioso se tem revelado para a humanidade, e a agirem em defesa dos valores comummente associados ao que o Estado Social significa.
O antigo primeiro-ministro salientou o silêncio de tantas vozes histéricas, que na véspera tinham verberado o discurso de Mário Soares Aula Magna e o viam, afinal, replicado nas palavras papais. Quando estas foram conhecidas, ei-los a meterem a viola no saco e a calarem-se no recato da sua falta de vergonha.
Mas, comprovando o seu indomável espírito lutador, Mário Soares não deixou de vir novamente a terreiro para questionar, nas páginas do “Publico” de 30/11, o comportamento de uma das instituições mais postas em causa pela Exortação Papal: a Igreja portuguesa que, excetuando a voz corajosa de D. Januário Torgal, tem revelado um vergonhoso colaboracionismo com a política austeritária deste (des)governo. Sobretudo com o verdadeiro flop, que se revelou na figura do atual patriarca de Lisboa, cujas palavras são de envergonhado comprometimento com a direita no poder.
Mas o que escreveu Mário Soares no jornal em causa?
Porque a Igreja portuguesa tem mantido um silêncio inaceitável, tal como o atual patriarca, em relação ao Papa. Parece que não gosta dele ou mesmo que o detesta.
Prefere a corrupção e a imoralidade, que reinava no Vaticano, à solidariedade do Papa que respeita os pobres? Que patriarca é este que há meses não fala e, em especial, de Sua Santidade.
Aliás, quando era bispo fazia-se passar por um homem desempoeirado e progressista — que afinal não é; tendo em conta o que não diz agora, parece que nunca foi.
Não deixa de ser paradoxal que, hoje em dia, têm de ser os agnósticos, ou mesmo os ateus, a defenderem as palavras do sucessor de S. Paulo, contra aqueles que deveriam estar na primeira linha para as defender e implementar.
As palavras do Papa Francisco acabam por confrontar a Igreja portuguesa com a sua identidade: ou se decide a manter-se na linha do cardeal cerejeira, que constituiu um dos principais baluartes do fascismo salazarista, ou opta por seguir a orientação do Vaticano, que contraria em absoluto o seu comportamento do antes e do depois da Revolução de Abril.
E já que falamos de um texto de ontem, também vale a pena referir outro, da autoria de José Pacheco Pereira e inserido no mesmo jornal, que tem a ver com algo habitualmente associável à doutrina cristã: a capacidade ou não de perdoarmos as ofensas alheias.
Ora, o conhecido historiador focaliza-se no que será a herança de passos, portas & Cª para concluir: pode-se-lhes perdoar tudo, os erros de política, a incompetência, o amiguismo, uma parte da corrupção dos grandes e dos médios, menos isto, este salgar da terra que pisamos, apenas para obter uns ganhos pequeninos no presente e com o custo de enormes estragos no futuro.
Na prática significa que todos quantos integraram ou ainda integram esta coligação e com ela têm sido coniventes não são merecedores de qualquer perdão: merecem ser condenados politicamente (e criminalmente se em casos como os dos submarinos ou da entrega dos Estaleiros de Viana à Martifer se comprovarem as legítimas suspeitas de corrupção!) e afastados em definitivo do que é o serviço público.
Por uma mera questão de higiene coletiva!
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