domingo, 1 de dezembro de 2013

TEATRO: «Mary Poppins, a mulher que salvou o mundo» no Teatro da Politécnica

Quando entramos na sala há imagens do filme dos anos 60 a serem projetadas na tela de fundo, mas já objeto de um tratamento de desconstrução de forma a ajustarem-se à música com o seu quê de minimal repetitiva. E logo nos surge a conhecida ama, que terá atravessado todos os tempos históricos para aterrar na casa da família da peça, constituída por mãe, pai, filho e filha, que acabam de chegar de uma caçada.
Sentimo-nos então mergulhados numa atmosfera com algo de cabaré dadaísta em que se misturam danças com canções e toadas infantis para redundar essencialmente numa questão bem atual: perante as dificuldades do presente seria bom que a mágica ama satisfizesse os desejos dos seus anfitriões, até pelas dificuldades insuperáveis, que as parecem inviabilizar. Ainda assim, ela não se coíbe de lhes prometer futuros risonhos!
Mas podemos satisfazer-nos com utopias marcadas para um duvidoso porvir, quando as nossas necessidades as exigem já para hoje?
Embora de forma muito subtil, será sobre esta nossa exigência de uma felicidade para o aqui e o agora que a peça de Ricardo Neves-Neves aponta. Operando a subversão perante quem hoje exerce o poder e, a troco da satisfação dos credores e dos mercados, pretende que todos nós nos sujeitemos a sacrifícios insuportáveis.
Na hora que dura esta representação somos surpreendidos pela imaginação do texto, pelo engenho da encenação (que comprova a inteligência para muito fazer com meios escassos) e pela versatilidade da Ana Valentim, da Patrícia Andrade, do Rafael Gomes, da Sílvia Figueiredo e do Vítor Oliveira, que protagonizam a peça.



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