domingo, 8 de dezembro de 2013

TEATRO: «4 AdHoc» na Cornucópia

Falta apenas uma semana para que a peça atualmente na Cornucópia saia de cena, restando escassas oportunidades para ainda assistir a um dos mais divertidos espetáculos disponíveis em Lisboa.
Tem sido paradoxal a reação das companhias de teatro à presente situação em que todas estão em risco, quer por falta de espectadores (cada vez mais contidos nos gastos com a cultura!), quer pela redução drástica de subsídios: nas semanas recentes temos assistido a peças extremamente divertidas, em que a crise é abordada mais ou menos explicitamente e de forma sarcasticamente inteligente. Ao invés, recordo ter visto peças bastante soturnas (a Bernarda de Alba do Lorca, algumas peças do Brecht ou do Orton) em alturas em que o país parecia caminhar para o crescimento e para a melhoria das condições de vida da maioria dos seus cidadãos.
É uma constatação empírica, mas quase parece haver aqui algo de contrabalanço entre a realidade social e a sua abordagem nos palcos teatrais. Como se repetíssemos aquela situação contada por Albert Memmi e verificada no ghetto de Varsóvia, quando os nazis o cercavam e todos os sitiados tinham por certa a morte iminente e passavam as noites a contarem anedotas  uns aos outros. O que levava o célebre escritor a constatar que, quando não tem outra alternativa, o desesperado ri!
Em «4 AdHoc», Cintra e os seus colaboradores pegaram em quatro pequenas peças de Labiche e transpuseram-nas para três horas de espetáculo, que passam num ápice e após muitas gargalhadas. De repente sentimo-nos teletransportados para outra época  - aquela em que imperava o “vaudeville”! - e encontramos o humor baseado numa sucessão calamitosa de equívocos. E nós, os incondicionais das propostas da Companhia, temos de confessar alguma surpresa por vermos os atores e atrizes, que associáramos a desempenhos bem mais circunspectos, a mostrarem tal versatilidade em papéis de uma comicidade irresistível.
Pessoalmente não me lembro de dali ter saído tão divertido desde a representação, há muitos anos, do «Não se Paga! Não se Paga!» de Dario Fo.


Sem comentários:

Enviar um comentário