A crítica não foi meiga para este filme de Woody Allen, como o não costuma ser com qualquer projeto que se adivinhe mercenário. E «Para Roma, Com Amor» é-o indubitavelmente. Enquadra-se no tipo de filmes que o realizador passou a assinar depois de problemas com os produtores, que o tinham acompanhado na sua fase mais grata da sua filmografia, e o haviam espoliado de muito dinheiro e de financiadores para novos projetos. Em risco de ver-se definitivamente marginalizado da indústria, ele aceitou o que lhe apareceu mais à mão e assim surgiu «Match Point» como montra publicitária de Londres a coberto de uma história mais ou menos consistente. E logo os seus sucedâneos sobre Barcelona e Paris.
Em Roma foi perfeitamente natural, que Woody Allen se deixasse influenciar pela grande tradição do cinema italiano dos anos 60, quando os estúdios da Cinecittà estavam em plena efervescência com comédias repletas de malícia e com filmes em episódios, sem esquecer os grandes títulos de Fellini, Visconti ou De Sica.
Por isso alterna quatro histórias em que se abordam grandes estereótipos da cultura italiana: a ópera (mesmo se apenas cantada no chuveiro), a timidez que esconde vulcões de sensualidade, o conservadorismo bafiento das classes abastadas, a volubilidade dos sentimentos amorosos, a efemeridade da fama suscitada pelas televisões berlusconianas e o contraste entre os costumes citadinos e os das pequenas cidades de província. Tudo embrulhado num pacote, que contempla muitas imagens dos principais monumentos romanos, sem cair na tentação de os captar numa lógica de bilhete postal.
Não será um dos grandes filmes do autor, mas vale decerto bem mais do que a maioria dos títulos estreados nos nossos cinemas com o objetivo de aumentar os volumes de vendas das pipocas e da coca-cola.
E encontramos uma multidão de caras conhecidas desde Alec Baldwin a Judy Davis, de Roberto Benigni a Ellen Page, sem esquecer os cameos de Ornella Muti ou do recentemente falecido Giuliano Gemma.
No balanço: mais um entretenimento inteligente do realizador de «Manhattan».
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