Os tempos que correm não são de molde a darmos largas à galhofa, por muito que evoquemos a célebre máxima de Memmi («O desesperado, quando não tem outra solução, ri!»), mas convenhamos quão crescente tem sido o prazer de assistir aos incómodos de tanta gente despeitada pelo regresso bem sucedido de José Sócrates ao debate político nacional.
Bem podemos indignarmo-nos com as aprovações de legislação danosa e, tantas vezes inconstitucional, pela maioria parlamentar na Assembleia ou as tristes jogadas da juventude laranja para sabotar a pouca capaz de contribuir para a felicidade de algumas pessoas! A atenção cai inevitavelmente nas intervenções anti-Sócrates, que fazem ricochete em quem as profere, quer por falta de legitimidade (catroga, vasco pulido valente), quer por cegueira ideológica (graça franco), quer por mera estupidez como sucede com os toscos deputados dos dois partidos temporariamente maioritários. Sobram uns miúdos do «Expresso» (os raposos, os lebres), que não têm cara, nem estatuto, para sequer levarem uns tabefes...
Como apontou Pedro Adão e Silva, as “novidades” trazidas por José Sócrates nas diversas entrevistas e intervenções dos últimos dias mais não são do que um condensado do que sempre tem dito. Com a vantagem de, depois de tanto boicote à divulgação dos seus pontos de vista, eles ganham uma irreversível visibilidade.
A hedionda campanha de santana lopes sobre a sua sexualidade, além de abjeta, estava mais do que demonstrada pela evidência dos ataques assumidos pelo atual provedor da Santa Casa durante a campanha eleitoral de 2005. Decididamente os portugueses não têm uma memória assim tão curta e têm bem presentes as alusões inqualificáveis de tão sórdida criatura.
Personagem menor da política portuguesa, santana lopes é daqueles estranhos epifenómenos, que caracterizam muitas vezes a política nacional ganhando espúrio protagonismo apesar de trazerem uma mão cheia de nada, e outra de coisa nenhuma.
Quanto à polémica sobre o convite endereçado a passos coelho em 2010 para um grande governo de Bloco Central, basta voltar ao livro de David Dinis e Hugo Filipe Coelho para se colher essa nunca desmentida informação.
Felizmente, que a memória de ângelo correia também não é assim tão curta e trouxe a lume a tentativa de Luís Amado para que apadrinhasse essa possibilidade, a que se terá seguido um encontro entre Sócrates e passos coelho. Só se torna bastante revelador o facto de as televisões quase terem silenciado essa lembrança do antigo tutor do primeiro-ministro, quedando-se pelo desmentido deste último.
Mas sobre a condição de mentiroso já sabemos o que a casa gasta. Burla foi como, muito apropriadamente, Pedro Silva Pereira designou a montanha de promessas proferidas por passos coelho para conseguir o voto dos eleitores, a quase todos enganando com as políticas que, depois, implementou.
Mentiroso também ele provara ser ao conseguir de Sócrates a complacência para vir a talhe de lume a forma como supostamente tivera conhecimento do teor do PEC IV (por telefone na madrugada da sua apresentação), quando se sabe ter estado reunido em São Bento com o então primeiro-ministro para dele se inteirar.
Acabamos, pois, a semana com a direita acossada pela sua incapacidade para virar a seu favor as narrativas, que vão demonstrando a sua incompetência, cegueira ideológica e falta de patriotismo perante os sucessivos ataques à soberania lançados pela troika, por responsáveis da Comissão Europeia ou pela corte luandense de ZéDu.
Poderá ir invocando alguns escassos indicadores, que lhes aliviam a alma, mas os mais relevantes - aqueles que verdadeiramente importam! - só lhes pode causar calafrios.
Como diria Hobsbawn os próximos tempos prometem ser muito interessantes. Porque tudo se conjuga para que as coisas deixem de ser como ainda são!
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