quarta-feira, 23 de outubro de 2013

POLÍTICA: atrás dos tempos, tempos vêm!

A semana começou intensa com a Embaixada Alemã a reagir à entrevista de José Sócrates ao «Expresso», revelando-se agastada com os termos utilizados a propósito dessa tortuosa personagem chamada Wolfgang Schäuble.
Almas piedosas ofenderam-se com algum vernáculo utilizado pelo antigo primeiro-ministro como se os tempos transformassem alguns figurões em autênticas vacas sagradas sobre quem nos deveríamos coibir de  os designarmos como merecem.
Mas as notícias caíram em catadupa: pires de lima anuncia um programa cautelar, que nem os colegas de governo conheciam. E lá voltamos, uma vez mais, à carta de demissão de vítor gaspar, quando dava da governação a imagem implícita de uma nave à deriva no vasto oceano sem ninguém a segurar-lhe o leme.
A seguir tivemos o relatório da UTAO a confirmar o que já sabíamos: queimaram-se milhões de euros numa austeridade estúpida e o défice permaneceu inamovível nos 5,8%.
Depois culminámos nas declarações desse gangue tenebroso constituído pelos principais banqueiros do país, que desconhecem o significado da separação de poderes e porfiam em pressionar os juízes do Tribunal Constitucional a agirem de acordo com os seus exclusivos interesses.
E concluímos com António Costa e Francisco Assis a saudarem o acordo entre Rui Moreira e Manuel Pizarro na Câmara do Porto lançando justificadas farpas ao aparelhista Carneiro, que integra a lamentável corte do Largo do Rato, responsável pelo facto de, nesta altura, o Partido Socialista ainda tardar a convencer os portugueses quanto à alternativa a esta política de destruição da economia e da própria soberania nacional.
Para começo da semana não está mal e já se adivinha o que se seguirá: ao demonizarem as eleições antecipadas, agitando o papão do segundo resgate, os banqueiros e o seu representante em Belém pretenderão voltar à carga junto de António José Seguro para que ele se acomode ao suposto programa cautelar previsto para o segundo semestre de 2014. E contarão com uma chantagem já em vias de ser experimentada a ver se pega: já que José Sócrates culpa passos coelho por ter rejeitado o PEC IV, que poderia ter poupado o país a este programa de “ajustamento”, o PS não teria legitimidade para repetir o erro então assacado à oposição e pôr-se de parte de um suposto acordo abrangente dos chamados partidos do arco da governação.
O que esses defensores da rendição do Partido Socialista à sua estratégia de prosseguimento destas políticas, falsamente redentoras de todos os males nacionais, é que nunca passaria pela cabeça de José Sócrates alguma vez governar contra a legalidade constitucional e em contínuo afrontamento com os juízes mandatados para verificar da conformidade das leis aprovadas pelo seu executivo.
Existe uma diferença de tomo entre negociar dentro dos valores fundamentais da democracia ou submeter-se á sua despudorada violação…
É por tudo isso que o regresso em força de José Sócrates, quer à opinião semanal na RTP, quer nas entrevistas propiciadas ao Expresso e à TSF, ganham particular importância neste momento da nossa História. Depois de dois anos e meio de completa ausência de escrúpulos e de consciente violação dos mais comuns princípios civilizacionais, é tempo de exigir outro modo de governar priorizando as políticas para as pessoas concretas, secundarizando essas entidades sombrias, que se escondem sob a capa de «mercados», «credores» ou «agências de rating».
Por agora essas forças parecem muito poderosas e capazes de imporem chantagens difíceis de contrariar. Mas é precisamente quando o inimigo usa toda a sua artilharia, anteriormente doseada com outra subtileza, que se deteta a insegurança de que dá mostras quanto ao sucesso da sua estratégia.
Como canta o Fausto “atrás dos tempos vêm tempos e outros tempos hão-de vir”.  E cabe-nos acelerar a sua vinda...


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