Escrito em 1875, «O Adolescente» é uma obra de transição no conjunto da bibliografia de Fedor Dostoievski: depois da sua idiossincrasia nietzschiana, bem representada pelo Raskolnikov do «Crime e Castigo», ele consolida o cristianismo eslavo já subjacente no romance anterior, «Os Irmãos Karamazov».
O protagonista é Arkadi Dolgorouki, que nascera dos amores do latifundiário Versilov com uma das suas criadas. Enviado para um colégio destinado a aristocratas, é marginalizado, e sujeito a humilhações com a complacência do diretor, um francês ignorante e mesquinho.
Arkadi não se revolta, mas interioriza o ódio pelos outros catalisando-os em devaneios de riqueza e de poder. Nisso ele é eco de outras personagens de Dostoievski, ao ter como ideia fixa vir a tornar-se tão rico como um Rothschild, razão do jejum e poupança obsessivos.
Mas, impulsivo e inconstante, acaba por gastar quase todas as economias num gesto de generosidade, investindo o pouco que lhe sobra na boémia, que até então desconhecera.
Acontece-lhe então a paixão por uma mulher, a mesma que é cortejada pelo pai. Quando um documento capaz de comprometer os dois outros vértices desse triângulo amoroso, lhe cai no regaço, ele aproveita para revelar as piores facetas de si mesmo: as de intriguista e de jogador compulsivo, que o fazem cair nas mãos de impiedosos credores.
Será o amante da sua irmã Lisa, quem acabará por o salvar da encrenca em que se enredou.
Temos, pois, um adolescente fechado sobre si mesmo, como se se sentisse o centro do mundo. Mas a consciência do seu próprio egoísmo incomoda-o, porque não deixa de ansiar pelo advento de uma mirifica felicidade universal, que acabará expressa em quem adotará como seu guia espiritual, o peregrino Makar Ivanovitch, que propõe um novo cristianismo, oriundo do coração do próprio povo.
Razão para que este romance psicológico faça de Dostoievski o representante do dogma da santidade popular. Um tema que me deixa completamente indiferente e me leva a desvalorizar esta obra...
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