No último dia do prazo legal para o fazer, marilú e os seus secretários de estado apareceram nos ecrãs de televisão à hora dos telejornais para apresentar o orçamento para 2014 que - sabemo-lo por um dos matutinos de hoje - foi arrasado por paulo macedo em pleno Conselho de Ministros.
Passaram-se entretanto doze dias desde a conferência de imprensa de paulo portas em que este prometeu: “Em nenhuma circunstância estamos perante um pacote de austeridade.”
É certo que passaram mais do que os três dias da regra, que torna revogável aquilo que, antes, não o era, mas até podemos considerar que o vice não mentiu se considerarmos o caso dos empresários a quem se desceu o IRC em 2%. Numa lógica inerente à sua ideologia a austeridade mostra-se muito seletiva voltando a incidir sobre quantos vivem dos seus ordenados, enquanto o patronato consegue um enquadramento social, político e económico em que se incrementa a acumulação obscena de mais valias da exploração do labor dos seus trabalhadores precarizados.
Agora, confirmada a intenção de cortes superiores a 3 mil milhões de euros, sobretudo focalizados na despesa com salários e pensões dos funcionários públicos, temos por certa a repetição do efeito recessivo já suscitado pelos dois orçamentos da era gaspar.
A menos que o Tribunal Constitucional interprete estas medidas como ilegítimas à luz da nossa Lei Fundamental e se volte a verificar a situação apresentada pelo economista Manuel Caldeira Cabral, segundo o qual "os [ténues e recentes] sinais de recuperação vieram da procura interna, com a atenuação da queda do consumo, dos gastos públicos e do investimento, e não pela aceleração das exportações líquidas, que na realidade estão a desacelerar ". Mas bem vimos como, em vez de agradecer aos juízes do Palácio Ratton o seu papel positivo na inflexão do agravamento dos indicadores económicos, passos e a sua corte voltaram a pressioná-los no sentido da complacência para com a sua agenda ideológica.
Bem pode a refinaria da Galp em Sines aumentar a sua produção para iludir quantos ainda acreditam num país em acelerado crescimento das exportações de bens transacionáveis, que a mistificação continuará a ser desmascarada.
Como escrevia o diretor do «Negócios», Pedro Santos Guerreiro, estamos muito longe de uma alteração substancial do rumo desastroso do país: Novo ciclo? Os aposentados da função pública vão ter cortes superiores aos deste ano.
Novo ciclo? Os reformados da Segurança Social vão manter a austeridade, os viúvos vão ter mais cortes a meio de 2014.
Novo ciclo? Os futuros pensionistas são dizimados, sofrem todos os cortes, são os mais castigados de todos.
Novo ciclo? Os funcionários públicos vão ter cortes salariais superiores, sobretudo os com menores rendimentos, e haverá um programa de rescisões.
Novo ciclo? O desemprego continua elevado, os empregados suportarão o mesmo nível de fiscalidade.
Novo ciclo? Sim, para as empresas e para os investidores, são os únicos que pagarão menos impostos.
De resto o novo ciclo é igual ao velho.’
E nem a subserviência de machete perante os angolanos ou a cumplicidade do finado antónio borges com os chineses da EDP e da REN valerá uma mãozinha amiga. Como vários políticos e comentadores o sublinharam nos últimos dias, “quem não se dá ao respeito, não se faz respeitar!”.
Atitude afinal bem diferente do da direita espanhola, que rejeitou liminarmente os cortes salariais entretanto propostos pelo FMI. Mas o brio patriótico é algo que não condiz com esta gente!
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