terça-feira, 22 de outubro de 2013

POLÍTICA: o que fica da entrevista de Clara Ferreira Alves a José Sócrates

A entrevista de Clara Ferreira Alves a José Sócrates constituiu mais uma oportunidade para repor a verdade sobre o que aconteceu em Portugal entre 2005 e 2011, com particular enfoque para os dois últimos daqueles anos.
Quero crer que terá havido quem tenha detestado o antigo primeiro-ministro a coberto da tremenda campanha caluniosa, que sobre ele se abateu, e tenha revelado suficiente abertura de espírito para - sentida agora na pele o valor da alternativa - lhe ler as declarações desta semana.  Espero que o resultado tenha sido pelo menos o de se questionarem sobre a justiça do que sobre ele quiseram acreditar.
Eu próprio não aderi às propostas políticas de Sócrates, quando ele se candidatou pela primeira vez a secretário-geral do PS. Nessa altura deixei-me condicionar pela perspetiva de certos comentadores desinformados, que apressadamente o conotavam com a direita do Partido Socialista. Assim, chegado o momento de votar, optei por Manuel Alegre.
Vencidas, entretanto, as eleições de 2005 fui rapidamente conquistado pelo ritmo com que o governo lançou o seu programa, com a requalificação das pessoas, a aposta nas novas tecnologias e nas energias renováveis, a criação de novos hospitais, a desburocratização dos serviços prestados pelo Estado e tantas outras iniciativas, que prefiguravam uma modernização acelerada de um país empurrado celeremente para o século XXI.
Passados quase dois anos e meio sobre a vitória eleitoral da coligação PSD/CDS a minha admiração por José Sócrates só cresceu por nele comprovar uma personalidade íntegra e movida por valores que, ao contrário do que se verifica com quem nos tem levado para uma crise cada vez mais profunda, não são de todo irrevogáveis.
É verdade que datavam de antes as muitas calúnias, que procuravam assassinar a sua reputação, lançando suspeitas infundadas sobre a sua sexualidade, a sua licenciatura, a sua riqueza, a sua mobilização de influências em prol dos amigos e outras mentiras, que infelizmente não provinham apenas de gente de direita (que sabemos mais facilmente vocacionadas para a mentira e para a falta de escrúpulos!), mas também de muitos simpatizantes do PCP ou do BE, que se prestavam a fazer o jogo de quem lhes deveria servir preferencialmente de antagonistas.
Não é que, sobre tudo isso, a entrevista de Clara Ferreira Alves traga grandes novidades. Desde que David Dinis e Hugo Filipe Coelho publicaram «Resgatados», ficámos devidamente informados sobre as condições em que, a contragosto, José Sócrates foi obrigado a pedir a vinda da troika. Gentinha (no diminutivo mais pejorativo que possa haver!) como catroga, marco antónio costa e passos coelho saem devidamente retratados dessa descrição de um momento fundamental da recente História portuguesa, ainda que lá tenham também cabimento o antónio borges, o braga de macedo, o paulo teixeira pinto (que, curiosamente, agora edita o livro de Sócrates sobre a tortura!) ou a marilú albuquerque, já então descrita como serpente venenosa de quem os governantes socialistas tudo faziam para afastar do conhecimento dos dossiês mais sensíveis.
O trabalho jornalístico de Clara Ferreira Alves não acrescenta nada ao que os indefetíveis de Sócrates já sabem. Mas poderá criar a dúvida em quantos vão despertando da letargia para que foram empurrados e se descobrem agora num pesadelo de que pretendem fugir a sete pés. Nesse sentido a promessa de Sócrates em manter uma intervenção ativa na vida portuguesa, mesmo que escusando-se a submeter-se ao voto popular, é uma ótima notícia. Porque, depois de terem corroído os alicerces de uma obra, que prometia ser grandiosa e que reduziram quase à dimensão da terra queimada, esta gente merece a persistente campanha de informação e mobilização das consciências, que as remeta para o tal caixote do lixo para onde deveriam ter sido atirados antes de fazerem tanto mal.


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