Houve um tempo em que paulo portas terá sonhado liderar a direita portuguesa no seu todo e tornar-se no primeiro-ministro de um governo com maioria absoluta.
A oportunidade mais recente aconteceu em maio de 2011, ao iniciar a campanha eleitoral para as legislativas, quando tudo se conjugava para uma derrocada do Partido Socialista e a janela de oportunidade suscitada por um PSD com um líder medíocre.
Nessa campanha portas excedeu-se em voluntarismo, percorrendo todas as feiras e mercados com a sua propaganda tendente a fazer crer que o CDS era o partido representativo dos agricultores, dos contribuintes, dos pensionistas e dos reformados.
Quando já se imaginava a conquistar mais de 20%, o eleitorado correspondeu-lhe apenas com metade do apoio esperado. A deceção dos principais rostos do CDS na noite de 5 de junho foi evidente por muito que se soubessem destinados a uma coligação com o partido de passos coelho.
Desde então portas andou a lamber as feridas, remoendo as sucessivas provocações do parceiro de governo até o julgar suficientemente ferido na credibilidade para lhe provocar a queda, que julgara definitiva.
Engano seu! O antigo diretor do Independente capaz de criar campanhas violentas contra quem se tornava alvo dos seus ódios de estimação, tinha-se sobrevalorizado nos dotes de estratega. O golpe da demissão irrevogável redundou num fracasso, que muitos consideraram de consequências irreversíveis para a sua credibilidade.
Passado o susto portas viu-se guindado ao lugar de vice-primeiro-ministro, mas sabe que o seu poder é muito efémero. Os meses vão passando e a lei de Murphy parece cumprir-se na perfeição com tudo o que possa correr mal a efetivamente verificar-se e, ademais, nas piores alturas. O tombo prometido promete ser violento. Daí que continue a ensaiar as manobras, que outrora lhe tinham valido resultados positivos, mas agora estoiram com o maior fragor. Assim, faz uma conferência de imprensa só de boas notícias, esquecendo os pecados e omissões, e viu-se na berlinda durante toda a semana seguinte a ser acusado de ter voltado a mentir.
A intervenção de ontem à noite no final do Conselho de Ministros, e em que o tema único foi a explicação do âmbito da TSU das viúvas, foi uma pífia tentativa de emendar de mão. Fazendo-o, quando José Sócrates tinha a sua intervenção semanal na RTP, não se privou de lhe endereçar uma bicada, que julgaria cirúrgica. Mas, uma vez mais, o cálculo saiu-lhe furado, porque os reformados e pensionistas já não se aliviam ao saberem-se provisoriamente isentos de novos cortes nos seus rendimentos, porque sabem que, aberto o precedente de quebrar o conceito do Estado como pessoa de bem, estão criadas as condições para os que se seguirão e envolvendo os agora poupados.
E portas também já não consegue iludir os incautos com a mistura do que não pode ser posto no mesmo caldeirão: abonos de família (diretamente financiados pelo Orçamento Geral do Estado) e pensões de reforma ou sobrevivência (resultantes do que os contribuintes descontaram nos seus vencimentos).
Ficou demonstrada à saciedade e para quem ainda alimenta qualquer dúvida, que portas é um anão político ao lado do gigante que Sócrates continua a ser. Porque enquanto o antigo líder socialista é sempre um homem de princípios e valores, que orienta todo o seu pensamento político de acordo com uma ética republicana bem estratificada, portas continua a ser o troca-tintas que vai alterando o seu discurso em função das circunstâncias. Por isso mesmo o futuro ainda está em aberto para Sócrates e cada vez mais fechado para a imagem bafienta, que portas vai inspirando.
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