Na passada terça-feira - passaram cem anos sobre a data do nascimento de Robert Capa, porventura o mais impressionante dos fotojornalistas que alguma vez existiram. Porque - para além das preocupações estéticas ou de prosaico negócio, que costumam fundamentar os seus seguidores - ele tinha um fito de que não se desviava: a o combate ao fascismo e a todas as formas de opressão.
Os outros usavam as armas, ele usava a sua câmara fotográfica.
Robert Capa nasceu em Paris aos 22 anos. Antes disso chamava-se Endre Ernö Friedmann e estava exilado na Alemanha desde que os 17 anos, quando caíra nas malhas policiais da ditadura de Horthy e se vira obrigado a sair da sua cidade natal, Budapeste.
Filho de um casal, que trabalhava numa alfaiataria, ele sentira, desde muito cedo, o fosso de desigualdade social, que existia entre os aristocratas das esplanadas chiques da capital e os bairros periféricos onde viviam a família e os amigos. Não admira que, ainda adolescente, tivesse iniciado a luta política contra a opressão.
Ao chegar a Berlim movia-o a intenção inicial de aproveitar o clima cultural e boémio de Berlim, para amadurecer a motivação ideológica, estudando jornalismo para batalhar com as palavras. Ainda não suspeitava, que a sua luta passaria pelas imagens em vez dos textos escritos.
A descoberta das potencialidades da fotografia acontecera ao interessar-se pelo trabalho de uma amiga de infância de Budapeste, igualmente radicada em Berlim - Eva Besnyo - a quem acabara por perguntar: «A fotografia é uma boa profissão?»
Muitos anos depois, ela ainda se orgulhava de o ter atraído para a fotografia e de lhe ter arranjado emprego na agência Dephot, pertencente a um empresário húngaro. Incumbiram-no aí da sua primeira grande reportagem fotográfica, que consistia em acompanhar a conferência de Léon Trostski em Copenhaga, depois de consumada a rutura com Estaline.
Instintivamente, ele começa a, logo desde essa altura, a afirmar o seu estilo muito pessoal captando o político de muito perto, incomodado pela sua solidão e meio desconcertado com o entusiasmo da multidão a quem se dirigia.
A melhoria das suas condições financeiras iria facilitar-lhe o acesso a um vício de que nunca se livraria e herdado do pai: a de jogador inveterado.
Anos depois, quando fez uma reportagem nos casinos da Riviera Francesa, perdeu o dinheiro que recebera de adiantamento num único fim-de-semana.
A quem o verberou por tal irresponsabilidade ele respondeu com descontração: «Tenho de viver como vivem os ricos, para conseguir fotografá-los!».
Mas, ainda estava manifestamente a dar os primeiros passos na profissão, quando os nazis ascendem ao poder na Alemanha e o fazem fugir para França, já que ser judeu e comunista num país doravante entregue à bestialidade fascista, constituía um risco demasiado grande para poder suportá-lo.
Em Paris os primeiros meses são de miséria e de desocupação, por muito que nunca deixa de fotografar com a sua Leica. A mudança ocorre, quando se apaixona, em 1935, por outra refugiada judia, mas de origem polaca, Gerda Pohorylles, e ela se encarrega de dar uma orientação racional ao caos em que se convertera a sua vida.
A mudança de nome fará parte de uma estratégia comercial, que se revelará muito bem sucedida, porque não tardará a ver multiplicadas as encomendas de trabalhos.
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