Pacheco Pereira contou que um amigo lhe confidenciara ter encontrado semelhanças evidentes entre a degenerescência de que dá mostras o governo e o filme em que Bruno Ganz interpreta o papel de Hitler E o melhor exemplo disso mesmo foi o número lamentável representado por passos coelho na ação de propaganda para ele organizada pela RTP e incluindo um suposto painel de anónimos portugueses incumbidos de lhe colocarem as questões pertinentes do momento.
Recordemos que, no filme de Oliver Hirschbiegel, a mulher de Himmler, Margarete matava os cinco filhos do casal, porque os alemães não os mereciam ao não terem tido suficiente empenho em defenderem o seu líder. Os suicídios de tantos dignitários nazis por esses dias do colapso do regime tinham a ver com essa sensação de terem querido algo de imprescindível para a Alemanha e o povo não ter estado á altura dessa ambição.
O discurso milenarista de passos coelho significa isso mesmo ao profetizar que o seu fracasso será o de todo um povo, que o não terá sabido compreender e demonstra à saciedade o quão próximo do fim ele se encontra. Esta lógica é típica dos autocratas, completamente cegos pelo fracasso dos seus modelos de governação e a quem não resta outra solução senão a de atirarem culpas para cima de quem está mais a jeito: ao parceiro de coligação, sempre que possível - e a semana foi fértil em caneladas de parte a parte entre PSD e CDS, começando no silêncio laranja no debate parlamentar sobre a TSU dos viúvos e viúvas e culminando na triunfante fotografia de paulo portas com os protagonistas do seu ridículo penta! - até ao eleitorado que, doravante só poderá ir punindo-o cada vez mais.
Quando a sondagem hoje publicada no «Expresso» dá uma percentagem maioritária de portugueses a acreditarem na possibilidade do governo ir até ao final da legislatura, ela só servirá de consolo de fim de semana ao primeiro-ministro sempre ansioso por sinais, que possam contrariar o pressentimento das muitas tempestades, que ameaçam tombar-lhe sobre a cabeça. Mas, de facto, já vai fazendo o seu caminho, dentro do PSD, a tese de ser urgente a saída do governo, para lá regressar o mais rapidamente possível, porque António José Seguro estará condenado a imitar Hollande na rápida queda do fugaz apoio com que possa ser eleito.
Assim importará a esse setor do PSD, que as eleições decorram antes da possibilidade de atribuírem uma maioria absoluta ao PS. Porque será fácil promover-lhe a queda numa situação semelhante à do PECIV de José Sócrates, quando se puder contar com o PCP e com o BE para darem, uma vez mais, a mão à direita.
Uma hipótese do agrado dos órfãos do cavaquismo será a de verem as bases do partido tão desagradadas com passos coelho, que rio vá fazer a rodagem do carro novo ao Congresso de fevereiro e venha de lá ungido com o fulgor de um súbito sebastião regressado em dia de intenso nevoeiro.
A outra alternativa, porventura a mais aliciante para a estratégia dos atuais dirigentes conotados com passos coelho, será a de avançar com sucessivos pacotes legislativos claramente anticonstitucionais, que justifiquem uma fuga airosa do governo de acordo com o argumento de existirem soluções salvíficas, mas impossibilitadas pelos juízes do Palácio Ratton, execrados como forças de bloqueio.
Daí que, perante este presente desnorteio em que ninguém na cúpula do poder - seja em Belém, seja em São Bento - tem uma noção consistente do rumo a seguir pelo país, essa seja uma possibilidade muito séria com que nos confrontaremos nas próximas semanas.
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