Marjane Satrapi já nos deu, através do seu «Persépolis», uma visão muito interessante sobre o Médio Oriente em versão de banda desenhada. Por ela ficámos a conhecer a Revolução iraniana e os seus efeitos no dia-a-dia de uma família de classe média dissonante do discurso fundamentalista dos ayattollhas. Agora ficámos a conhecer a libanesa Zeina Abirached, que também vive em Paris desde 2005 e lhe segue os passos com idêntica ambição e qualidade.
Nascida em Beirute em 1981, quase a meio da guerra civil que aí se verificou entre 1975 e 1990, Zeina ainda assistiu a muitos dos acontecimentos então decorrentes do ódio entre as comunidades cristã, muçulmana e drusa.
O apartamento da família Abirached ficava muito perto da linha de demarcação entre cristãos, que viviam a leste, e os muçulmanos existentes na parte ocidental da cidade.
Na sua obra «Mourir, partir, c’est le jeu des hirondelles», publicada em 2007, ela compila as memórias infantis nesse prédio, quando ali vivia em 1984.
Partindo da sua perceção infantil ela retrata uma guerra, hoje silenciada no Líbano, vista dos escassos metros quadrados do apartamento enquanto dura um ataque aéreo, que separa os pais dos filhos.
Para a rapariga que estava a brincar com o irmão no corredor interior da casa, as ameaças da guerra civil são quase invisíveis. Eles não percebem quem são os beligerantes nem a razão para estarem envolvidos naquele conflito, no entanto omnipresente.
A cidade está dividida em setores, com a casa dos Abirached rodeada de sacos de areia donde disparam atiradores emboscados.
Durante a provação todos tentam superar a violência e o desespero, elaborar estratégias de sobrevivência e continuar a viver normalmente, regando as plantas apesar da penúria de água potável.
Com sensibilidade e humor, Zeina conta a solidariedade, o espírito de entreajuda no meio das ruínas: ou como construir uma aparência de segurança e de pátria num espaço muito limitado.
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