Esta semana tivemos os dias marcados pela apresentação do Orçamento Geral do Estado para 2014, que veio confirmar as nossas piores expectativas. Não propriamente um “choque”, como nos alertara passos coelho, mas mais do mesmo, já que aprendemos ao longo de dois anos e meio, não existir nunca um pior cenário do que nos é apresentado a cada momento. Sempre foi possível constatar que, em relação ao anterior, o seguinte conseguirá ser ainda mais calamitoso, e com mais cortes para os suspeitos do costume.
Como muito bem reparou João Quadros no «Jornal dos Negócios», a ministra nem sequer disse boa noite, quando procedeu à apresentação do documento. Explicando: “provavelmente por não querer voltar a ser acusada de ter mentido.”
Porque o que se seguiu foi realmente uma péssima noite. No «Diário de Notícias», José Manuel Pureza classificou o documento como “um cínico exercício de mentira em que ninguém acredita.” Ou que levou Pedro Adão e Silva a citar Einstein a respeito da gente insana, que nos (des)governa: “não há nada que seja maior evidência de insanidade do que fazer a mesma coisa dia após dia e esperar resultados diferentes.”
Temos, pois, a unanimidade nos comentadores cuja opinião merece credibilidade: a receita apresentada por maria luís albuquerque não funcionará e só irá criar uma recessão mais agravada. Mas isso que importa aos extremistas da «austeridade», que nos couberam com o beneplácito de um eleitorado iludido com as suas criminosas promessas?
Hoje é muito clara a agenda ideológica a que estamos a ser sujeitos quais cobaias de um laboratório neoliberal. Di-lo claramente Daniel Oliveira no «Expresso»: “os limites do défice não são o fim, são um instrumento. Uma forma de tornar a austeridade inevitável. E com ela produzir esta engenharia mágica que transforma o nosso empobrecimento em solução para a crise. Resulta? Não. Já foi tentado nos anos 30 e correu mal. Mas quando nos dizem, como disse esta semana a Comissão Europeia, que estes cortes são “amigos do crescimento”, percebemos quem são os imbecis que nos estão a tratar da saúde. É a isto que o Governo nos reduziu: a ratos de laboratório de aventureiros sádicos e sem memória.
Até meados do verão ainda sobravam uns iludidos com a possibilidade de a Europa nos estender a mão pelos danos causados à moeda única se o «plano de ajustamento» fracassasse em Portugal. Mas, no mesmo semanário, Fernando Madrinha mostra quão dececionados já estão esses iludidos: com “a Irlanda à beira de se libertar, com a Espanha e a Itália dando sinais de recuperação, a pressão para que o programa português resulte, em benefício da moeda única, é hoje menor. Basta descarregar sobre o sistema constitucional o ónus do previsível fracasso, como tem sido feito de forma sistemática, incluindo pelo português, que ainda preside à Comissão Europeia, para os credores lavarem as mãos das suas próprias responsabilidades no caminho desastroso que definiram para Portugal.”
Resta agora passos & Cª seguirem as orientações de marco antónio costa, que terá redigido um guião para discursarem nas próximas semanas e em que deverão repetir uma mentira milhentas vezes a fim de a tentarem vender como verdadeira: que o culpado é o Sócrates. Um argumento vergonhoso contra o qual se insurgiu Miguel Sousa Tavares no seu texto desta semana: “é uma vergonha que, todos os dias, todos os membros do Governo continuem a justificar o continuado desastre desta política com a herança de Sócrates. A realidade, porém, é que, depois de dois anos e meio de austeridade, depois de 35 mil milhões de euros roubados à economia, depois de 400 mil postos de trabalho destruídos e milhares de empresas levadas à falência, o défice é praticamente igual ao que herdarem e o défice público não fez senão aumentar. (…)
Vale a pena, aliás, lembrar, que o amaldiçoado José Sócrates, foi o único que se opôs sempre ao resgate, dizendo e repetindo que ele nos imporia condições de uma dureza extrema e um preço incomportável a pagar. Esta maioria, há que reconhecê-lo, conseguiu o seu maior ou único sucesso em convencer o país que o culpado de tudo o que de mal nos estava a acontecer foi Sócrates (…) e também o culpado pela vinda da troika.
Mas, tanto o PSD como o CDS, sabiam muito bem que, chumbado o PEC4, o país ficava sem tesouraria e não restava outro caminho que não o de pedir o resgate.
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