Em 2013 o Prémio Nobel da Literatura vai para o Canadá de Alice Munro em vez de dar satisfação aos muitos admiradores de um outro candidato sempre na primeira linha para a nomeação e que vive alguns quilómetros mais a sul, no Estado norte-americano do Connecticut: Philip Roth.
Desde que começou a publicar sucessivos romances, em 1959, ele pareceu comprometer-se com uma missão inesgotável: denunciar os tabus da sua tribo, alternando romances de grande espetáculo com miniaturas intimas, dinamitando os sonhos e as boas consciências. Em comum, seja em «O Complexo de Portnoy» , «Indignação» ou quaisquer dos seus outros títulos, encontram-se sempre a solidão, a doença e o desespero sexual.
Em torno dessas constantes construiu uma das obras mais originais do último meio século.
Nascido em 1933 em Newark, Roth escolheu viver sossegado na casa do século XVIII para onde foi viver em 1972, embora se acolha a Nova Iorque durante o Inverno. Tendo vivido nesta última cidade até aos 16 anos, ele ainda se sente extremamente marcado por ela.
Hoje, chegado aos 80 anos, reconhece-se como sendo um escritor mais sóbrio e sombrio. A extravagância de Portnoy há muito que ficou pelo caminho, embora lhe conserve a impertinência. Que está presente, sobretudo, na sua Trilogia Americana - «Pastoral Americana», «Casei com um Comunista» e «A Mancha Humana» -, que aborda três momentos de loucura vividos pela sociedade do seu país: o macartismo, o Vietname e o politicamente correto. É a América transposta para o romance. E uma reflexão profunda sobre o que significa ser hoje americano!
O que esses três livros refletem é o interesse de Roth por um período específico da História dos EUA, que suscita consequências indeléveis nos personagens ali inseridos.
«Pastoral Americana» situa-se no início dos anos 70 e mostra os efeitos da Guerra do Vietname numa família de New Jersey , onde avulta a filha de 16 anos, que se torna numa ativista contra o conflito na Indochina antes de se transformar numa terrorista capaz de colocar uma bomba que irá matar alguém.
Nessa época, também ele indignado contra a guerra, Roth reconhece ter feito coisas, que, por timidez, nunca se imaginara a executar: a participação em desfiles e manifestações, por exemplo. Daí que ainda a reconheça como a mais marcante na sua biografia.
Quando acabou de escrever «Pastoral Americana» para verter tudo quanto vivera e pensara sobre esse período, questionou-se que outras épocas o tinham, igualmente, colocado em idêntico estado de cólera. Recordou-se, então, de quando tinha 14 ou 15 anos e se interessara pela cruzada anticomunista, tanto mais que tinha parentes filiados no partido. Um deles viera completamente indignado da Guerra com a política norte-americana e com o racismo e tornara-se seu mentor.
O livro, que escreveu sobre esse período, «Casei com um Comunista», acaba por não exprimir as opiniões de Roth, mas os conhecimentos por ele acumulados nessa turbulenta fase em que ser comunista comportava riscos muito sérios numa sociedade pressionada para os execrar.
O terceiro romance da trilogia, foi escrito em 1998, quando viu-se regressado ao caldo social muito semelhante ao anterior, quando McCarthy pontificava na sua caça às bruxas. E o alvo era agora Bill Clinton!
Surge então essa história em torno da acusação de racismo a um professor universitário que, paradoxalmente, e embora não seja evidente, é negro.
Agora que se viu novamente preterido, Roth justifica algumas questões a quem vai, ano após ano, esperando a sua consagração pela Academia Sueca e sai sempre frustrado.
Será Roth demasiado judeu? Serão o seus temas demasiado ousados para quem acabou por escolher uma autora mais consensual na sua personalidade e nas temáticas dos seus romances?
Questões, que ficam em aberto e sem resposta...
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