No texto de ontem («O apocalipse de passos coelho») referia a comparação feita por um amigo de Pacheco Pereira entre a governação de passos coelho e a de hitler, quando este se acantonou no seu bunker de Berlim, cercado pelos exércitos aliados.
Curiosamente, de forma implícita ou explicita, essa imagem esteve presente noutros textos e intervenções mediáticas deste fim-de-semana. Senão vejamos: a mais explícita foi a de Clara Ferreira Alves que, na sua crónica para o «Expresso» aproveita a abordagem à personalidade de Hannah Arendt e ao conceito de «banalidade do mal» para criticar as novas expressões («convergência» nos regimes de pensões de reforma, «requalificação» de funcionários públicos, entre outras alterações criativas do significado das palavras) de passos coelho ou do seu irrevogável vice para iludirem o verdadeiro significado da sua política de austeridade: “em Portugal, onde o discurso político oficial usa a novilíngua para disfarçar a ordem imoral e usa a burocracia (não fazemos as regras, apenas as aplicamos) como justificação da obediência, ver e reler Hannah Arendt é um imperativo categórico.”
Se a filósofa alemã de origem judaica tentava compreender a lógica do criminoso Adolf Eichmann que cumprira escrupulosamente as suas ordens e enviara milhares de vítimas para os fornos crematórios com a maior das eficiências, existe aqui uma similitude óbvia com passos & a sua infecta companhia, quando, desde o primeiro dia do governo, se dispuseram a receber ordens da troika e as quiseram cumprir com ainda maior zelo do que o que lhes era pedido.
Noutro texto sobre o medo suscitado pela ação de passos coelho a insuspeita Filomena Martins (sempre atávica antissocialista ) escreve no «Diário de Notícias»: “passos é o tal animal ferido na sua dignidade. Fisicamente envelheceu séculos e é a imagem de alguém que parece carregar aos ombros todo o peso do mundo. Está verdadeiramente convencido de que está a salvar o país, apesar de todos sabermos que o país, tal como o conhecemos, pode não lhe sobreviver. De um líder assim, que sabe que perdido por cem, perdido por mil, pode esperar-se tudo. Há por isso que ter medo. Muito medo.”
Pelo que fica exposto compreende-se bem o repúdio veemente demonstrado por Mário Soares a respeito desta gente, classificando alguns deles de delinquentes e considerando-os merecedores de julgamento para serem punidos pelos muitos crimes praticados contra os portugueses.
E para quem tem dúvidas sobre os efeitos de tais crimes temos o estudo da Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares Contra a Fome e da Universidade Católica, que mostra como 26% dos portugueses passaram fome alguns dias por semana nos últimos seis meses. E que, só entre 2010 e 2013 subiu em 12% o número dos que já se habituaram a passar dias inteiros sem ingerir qualquer alimento por falta de dinheiro.
A exemplo dos nazis, que coisificavam os judeus acumulados nos comboios da morte, este governo olha para os portugueses como números em folhas de excel em vez de os ver como pessoas de carne e osso que realmente são.
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