Robert Capa tinha 25 anos, quando Gerda morreu. Todas as esperanças nela depositadas para um futuro comum esvaíram-se e ele entrega-se ao trabalho como um obcecado para encontrar alguma forma de catarse. E, como em Espanha, ele sentia que só tinha de carregar no botão, que as fotografias estavam ali à sua frente à espera de serem captadas, é para Teruel, que regressa, acompanhando uma batalha, igualmente reproduzida num célebre filme de Malraux. Depois, com a aproximação da derrota republicana, segue para Barcelona para seguir na coluna de militantes das Brigadas Internacionais forçados a passarem a fronteira para França.
No ano seguinte, quando Hitler visita Paris na sequência da sua ocupação, Capa está no México e sente o desespero das derrotas sucessivas de todos quantos o imitavam nas suas convicções. «O mundo nunca foi tão triste como agora», escreve numa carta ao irmão mais novo.
Quando os alemães bombardeiam Londres pela primeira vez, ele cobre o acontecimento para a revista «Life». E radica-se em Nova Iorque, aonde a mãe e o irmão vivem no Upper East Side.
Para a célebre revista para que trabalhava mais regularmente, enceta uma reportagem, que o leva a viajar por toda a América profunda, distraindo-se na medida do possível do que sucedia no teatro de guerra europeu. Alces, bandas de jazz e cenas de futebol americano surgem reproduzidas a partir dos seus negativos. Mas trata-se de um espairecimento forçado: bem desejaria regressar à Europa, mas não consegue um visto para tal. Ademais, quando os EUA entram no conflito, a Hungria integrava as forças do Eixo, pelo que foi considerado cidadão de um país inimigo.
Escreve, então, ao Departamento de Estado a proclamar o seu ódio ao nazismo e a vontade de fazer das suas fotografias, um instrumento de combate contra os exército de Hitler. Mas só em 1942 consegue o visto para Londres, sem a garantia de ser autorizado a acompanhar o exército americano. Mas, meses depois, já está na Tunísia, e logo a seguir na Sicília, para captar as evidências fotográficas dos avanços aliados.
Lama, miséria e morte, será essa a realidade testemunhada nos sete meses em que vai avançando na direção de Roma com o exército norte-americano. Patton é, então, um dos que surge a seu lado numa imagem captada no dia da tomada de Palermo. Mas as amizades com gente que admira vão-se diversificando: em Paris encontra Hemingway por quem sentia uma verdadeira devoção.
Ciente de que a vida era tão frágil, que se poderia apagar num instante, deu asas à sua tendência para as festas bem regadas e para o jogo. Mas, no dia D, ele estava com os milhares de soldados, que se aprestavam para tomar de assalto a praia de Omaha: ele era o único fotógrafo presente para captar esse instante histórico.
Freneticamente, vai fotografando com estilhaços de balas a assobiarem à sua volta e corpos irremediavelmente silenciados nas suas costas. Exausto física e psicologicamente, Capa acaba por desmaiar na praia.
Infelizmente de quase centena e meia de imagens, que envia para serem reveladas em Londres, apenas sobram 11 por inépcia de um assistente de laboratório, e mesmo assim desfocadas.
As imagens sobreviventes acabaram por ser todas elas publicadas na Life e são o testemunho mais assombroso daquele dia em que dez mil soldados ficaram mortos nas praias da Normandia.
Sem comentários:
Enviar um comentário