No verão de 1935, Endre e Gerda apaixonaram-se e juntaram os trapinhos num apartamento junto à Torre Eiffel. Mas não conseguiam encontrar quem, em França, lhes comprasse os trabalhos jornalísticos. É, pois em desespero de causa, que ensaiam uma nova estratégia: inventam a personalidade de um fotógrafo norte-americano tão famoso e bem sucedido, que ninguém conseguia aceder-lhe à fala. Ora porque estava sempre comprometido com trabalhos excecionais, ora porque usufruia merecidas férias nalguma estância glamourosa.
Nasceu assim Robert Capa, cujo apelido evocava o do realizador norte-americano Frank Capra, que acabara de ganhar um Óscar. E, para não ficar atrás, Gerda pensou na sonoridade do nome Greta Garbo e mudou o apelido para Taro. Da associação afetiva e profissional dos dois surgiu assim uma autêntica máquina de venda de fotografias em que Endre captava-as e Gerda apresentava-as aos potenciais compradores.
Mas a lenda a respeito de Capa surgiu na Guerra de Espanha, cuja iconografia fotográfica conta logo à cabeça com a célebre imagem da morte de um miliciano em Cerro Muriano. Onde se evidencia a possibilidade de perder-se a vida, mas não a dignidade.
A Espanha de então era o vasto território para onde convergiam todos quantos pretendiam combater o fascismo, que pressentiam vir a tornar-se monstruoso na guerra mundial já vislumbrável no horizonte. E onde os alemães testavam as armas em preparação para esse futuro imediato…
Em Madrid ele capta o retrato de uma população aterrorizada , aprofundando o estilo de mostrar pessoas aparentemente banais em momentos historicamente significativos. E a autenticidade com que o faz tem uma explicação: consegue ir-lhes ao âmago das consciências por viver, lutar, comer, beber e sofrer com elas.
As fotografias de Capa chegavam, então, às principais revistas europeias, americanas e asiáticas, transmitindo eloquentemente a luta de tantos espíritos livres contra a criminosa insurreição de Franco e seus comparsas. E ele começava a ser conhecido como “o melhor fotógrafo do mundo”.
Gerda também o acompanha na condição de jornalista e começa a aprender com ele o ofício de fotógrafa de guerra. E é ela quem, perante a brutalidade do que vê ocorrer à sua volta, chega a comentar: “quando pensamos nas pessoas maravilhosas que morreram, tem-se a sensação de quanto é injusto continuarmos vivos.”
Em julho de 1937, a guerra chegou a Brunete, a oeste de Madrid, e manifestou-se numa batalha violentíssima, que durou vinte e um dias. No caos da retirada dos tanques republicanos, um deles perdeu o controle e atropelou-a mortalmente, quando ainda não fizera os 26 anos.
Capa está em Paris, quando a notícia lhe chega através das páginas de um jornal. E, de súbito, vê dissiparem-se todas as suas esperanças num futuro radioso.
Cartier-Bresson, um dos seus melhores amigos, deteta-lhe as diferenças de personalidade após essa provação: ele torna-se cínico, niilista, sempre desconsolado.
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