Karin Wessendorf realizou um documentário na primeira pessoa em que começa por manifestar a preocupação com a pegada ecológica relacionada com as suas práticas quotidianas. Feito o cálculo, embora melhor do que a média relativa à dos cidadãos europeus, o resultado ainda está aquém do que julga desejável. Até porque continua a comer carne com demasiada frequência, a comprar produtos importados e a substituir o telemóvel quando surge novo modelo.
Ela tem a consciência da necessidade de ver limitado o crescimento para se alcançar uma vida melhor. Porque a explosão demográfica, a crise energética ou o aquecimento global colocam questões, que não podem ser adiadas. Por isso mesmo vai documentar práticas seguidas em vários países europeus, que vão no sentido de reduzir o consumo e a produção de lixo urbano.
Niko Paech, professor universitário de Oldenburg, reduziu a sua pegada recorrendo exclusivamente a transportes públicos para todas as suas deslocações. Também ele salienta a importância de contribuir individual e coletivamente par ao objetivo de tornar sustentável o futuro da Humanidade.
Em Lyon, Karin visita a sede do jornal «La Decroissance», que é o porta-voz dos que se consideram “objetores do crescimento”. Por isso fazem compras em lojas de produtos biológicos aonde o condicionamento das mercadorias é o mais simplificado possível e exclui qualquer utilização de sacos ou embalagens de plástico. Os militantes da associação com o mesmo nome também defendem a paragem imediata de todas as linhas de produção da indústria automóvel, o que teria um impacto imediato em termos de dois milhões de empregos perdidos, mas que eles entendem compensáveis através da generalizada redução do horário de trabalho.
Um dos seus anfitriões, Jean Marc, leva-a a ver o seu estilo de vida, em que racionalizou ao máximo o consumo restringindo-o ao estritamente imprescindível. Fazendo entregas de documentos e pequenas mercadorias, ele trabalha em part-time, recebendo 800 euros mensais, que lhe bastam para as suas necessidades. Com o tempo livre, que passou a ter, Jean-Marc passou a dedicar-se mais intensivamente ao voluntariado ou ao ativismo ecológico, como é o caso de uma ação de apagamento forçado de todos os néones publicitários nas ruas da cidade.
De Lyon, Karin segue para Barcelona onde funciona um mercado de produtos em segunda mão, mas onde vigora a lógica da troca direta em vez do recurso ao dinheiro. Ou os ateliês em que se aprendem formas de cumprir o lema de «reparar é melhor do que renovar» equipamentos eletrónicos ou de telecomunicações.
Ainda noutro local da Catalunha, Karin visita a comunidade de Com Masdeu, aonde os 27 cooperantes partilham esforços para conseguirem ser o mais possível autossuficientes em tudo quanto necessitam a nível da sua alimentação, reciclando todos os seus dejetos. Conseguem assim reduzir ao mínimo o seu consumo de energia. Testemunha um desses cooperantes: Vivemos num mundo em que dependemos sempre dos outros para resolver os problemas. Em Com Masdeu é-se instigado a resolver os problemas por nós próprios.
Esses estilos de vida, que correspondem a uma atualização das práticas hippies dos anos 60 e 70, permitem criar novas redes alternativas para a produção e distribuição dos bens de consumo, fomentando relações humanas de maior qualidade e o acesso a alimentos mais saudáveis.
A deambulação de Karin vai concluir-se em Totnes, na Inglaterra, que já é uma das mil e quinhentas cidades europeias apostadas na transição. O objetivo é conseguir a completa libertação da dependência do petróleo até 2030.
Um dos mentores do projeto justifica: a energia barata está a acabar, já que se gastam cada vez mais recursos para a produzir.
Os habitantes de Totnes acreditam na iminente inversão da tendência para a globalização com uma revalorização da produção de produtos locais em detrimento dos que nos chegam atualmente das diversas latitudes.
Por isso criaram pomares e hortas comunitárias e generalizaram o recurso a painéis solares instalados nos telhados de quase todas as casas. Muito embora nem todos as propostas do município tenham tido a aprovação dos seus eleitores: a ideia de instalação de duas turbinas eólicas foi preterida em nome do impacto na paisagem.
Quando conclui o seu périplo, Karin interroga-se: o seu esforço individual em reduzir a sua pegada ecológica terá algum efeito prático ou não deverão ser as autoridades de cada país a preocuparem-se ativamente nesse objetivo coletivo?
A sociedade de consumo já não cumpre a promessa de assegurar uma boa qualidade de vida aos seus cidadãos e a crise atual constitui a oportunidade para repensar o sistema social e económico em que vivemos.
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