Das muitas vezes que aportei a Lagos, ou a qualquer outra cidade costeira nigeriana, nunca arrisquei sair do navio. A perigosidade era tal, que as recomendações dos agentes de navegação, desaconselhavam tal aventura.
Num dos momentos de maior convulsão política aí verificados até chegámos a andar mais de um mês a esgotar a dispensa de bordo bastante ao largo, porque esperar pela ordem para atracar mais junto a terra implicaria o risco de sermos alvos de pirataria marítima.
Não é, pois, de estranhar que a Nigéria seja um país em que a grande maioria das mulheres não tem emprego ou os encontra em funções pouco qualificadas e mal remuneradas. Daí a tentação de conseguirem o sustento das famílias através da prostituição, quer ali, quer noutras latitudes, tornando-se facilmente vítimas das redes de tráfico de mulheres, que as conduz a situações extremas de escravatura sexual. Em muitas cidades europeias comprova-se de facto essa invasão nigeriana no mercado do sexo.
Segundo a reportagem de Meryam el Yousfi e Thomas Bailly, apresentada no canal ARTE, um exemplo de combate a essa realidade é a protagonizada por uma quadragenária apaixonada por mecânica, a Lady Mechanic, que abriu um conjunto de oficinas destinadas a formar jovens mulheres em reparações de automóveis.
Antigas vítimas das referidas redes de prostituição encontram aí uma nova família e, sobretudo, um futuro promissor. Durante três anos, cinco dias por semana, elas vestem o fato-macaco e preparam-se para virem a liderar uma oficina sua, capaz de garantir rendimentos às suas famílias.
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