Porque razão Joseph Epstein, fuzilado no monte Valérien em 11 de abril de 1944, ocupa um lugar discreto no teatro da História? Porque é que foi necessário esperar pelo 60º aniversário da sua morte para que tivesse uma praça parisiense batizada com o seu nome?
Porque era judeu? Polaco? Comunista? - decerto pelas três razões em simultâneo.
Durante três anos Pascal Convert partiu à procura desse resistente que dirigiu a FTP na região de Paris sob o pseudónimo de «coronel Gilles».
Dessa investigação publicou um livro e este documentário em forma de túmulo consagrado a este antigo combatente das Brigadas Internacionais, que transmitiu os princípios da guerrilha urbana à luta clandestina na França ocupada.
Escrito na segunda pessoa, o argumento é endereçado ao filho de Epstein, Georges, nascido em 1941 e registado com o apelido de Duffau e que esperou até aos 65 anos para ver o Conselho de Estado autorizá-lo a acrescentar ao seu nome o nome do seu pai apenas conhecido através dos seus feitos heroicos.
Como «escultor da memória», Pascal Convert desvenda os contornos de uma personalidade de exceção, através dos testemunhos de outros companheiros da Resistência. O documentário tornou-se num dos mais conseguidos sobre um período determinante da França do século XX.
***
Em 16 de novembro de 1943, Joseph Epstein marcara um encontro com Manouchian em Ivry. Possivelmente eles foram seguidos, ou foi descoberto o lugar em que se encontrariam. Ambos foram capturados com armas, mas não tiveram tempo para se defenderem, já que se viram inesperadamente cercados.
A instrução do processo foi conduzida com sadismo. Revestiram o rosto de Joseph com uma máscara de couro tão apertada que o seu rosto ficou transformado numa massa sangrenta. Durante três meses torturaram-no. Béranger que o visitou na prisão de Fresnes, mal o pôde reconhecer.
Mas Epstein manteve-se inabalável no seu silêncio. Os carcereiros nem sequer lhe conseguiram arrancar o verdadeiro nome.
Os serviços de espionagem da Resistência receberam uma mensagem em papel de cigarro em que ele pedia uma folha de serra para cortar as grades da prisão. Mas quando ela lhe chegou às mãos, entregue por uma corajosa mãe de dois filhos, já era demasiado tarde.
Mas os alemães não conseguiram obter dele as informações que teriam permitido montar um processo público, que servisse a propaganda nazi. Por isso Epstein não figura no célebre cartaz vermelho, que denunciava a Resistência como um exército criminoso composto por estrangeiros e apátridas.
O processo do Hotel Continental na presença de toda a imprensa hitleriana e de jornalistas vindos de todos os países ocupados tentava demonstrar que os três franceses inculpados eram atrasados mentais manipulados pelos judeus, tidos por grandes responsáveis dos sacrifícios dos franceses «honestos».
Sem comentários:
Enviar um comentário