O aparecimento em força de José Sócrates na paisagem política nacional está a ser um dos grandes fatores de perturbação d a direita portuguesa, já por si dividida no comportamento a assumir com um governo disposto a cumprir-lhe a encomenda, mas dando mostras de tal incipiência, que se arrisca a fazê-la perder rapidamente como imprópria para consumo.
De facto, comprometendo ao mesmo tempo o PSD e o CDS, essa mesma direita adivinha o fim anunciado destas políticas e o quanto elas poderão ser infletidas nas momentâneas “conquistas”, que terá conseguido a nível de direitos laborais, de redução de IRC para os grandes empresários ou da degenerescência da educação e da saúde públicas. Desde Arquimedes se sabe que, quanto mais se puxa para um lado, mais se tenderá a impulsionar para o seu contrário, quando se opera a viragem inevitável.
É aí que, quer à esquerda, quer à direita, ande muita gente a interrogar-se qual o fito de José Sócrates ao regressar de Paris com uma tão óbvia vontade em se assumir como jogador no tabuleiro em que evolui a política nacional. Tanto mais que ele parece indisponível para se voltar a submeter ao voto popular, ainda que essa seja a vontade entusiasmada de muitos dos seus apoiantes, entre os quais me incluo.
Nesta altura, porém, o seu regresso à política ativa seria, de facto, extemporâneo: não só o espera mais um ano letivo em Paris, mas também ainda estão longe de se clarificarem muitas das contradições por que passa o país nestes dias, e que incluem a presença de muitas variáveis.
Se quisermos ser simplistas podemos adivinhar o fracasso do governo quanto ao “plano de ajustamento” e a necessidade de um novo “resgate”, mesmo que eufemisticamente designado como «plano cautelar».
Faltará constatar se, então, passos, portas & Cª serão mais ou bem sucedidos em atirar as culpas do insucesso para cima do Tribunal Constitucional e do pouco colaborante Partido Socialista!
Daí que, no patamar de intervenção política, a que, por agora se alcandorou, José Sócrates tenha definido precisamente a defesa da Constituição como um imperativo dos democratas e tenha revelado a escusa de passos coelho a um governo de coligação em 2010, quando ascendeu à presidência do PSD.
Importa, pois, reduzir o potencial de sucesso da propaganda da direita em desculpar-se com os juízes do palácio Ratton e dar a António José Seguro a artilharia adequada para fundamentar a recusa ao estender de mãos que passos, cavaco silva e os banqueiros não tardarão a endereçar-lhe. Só será preciso que o secretário-geral do PS pergunte a passos coelho com que legitimidade pretenderá agora o apoio, quando em altura não menos crítica para o futuro dos portugueses, terá sonegado.
Esperemos que, depois de nunca assumir a herança do governo anterior, perdendo por sua exclusiva culpa alguns dos debates parlamentares em que se silenciou, quando a direita a atacava, António José Seguro se liberte desse complexo de inferioridade, que nunca o parece deixar relativamente ao seu antigo rival na Federação Distrital de Castelo Branco. Porque depende dele muito do que vier a seguir: se não ganhar o grão de asa, que lhe garanta a capacidade de liderança de uma alternativa para a qual ainda não convenceu a maioria dos portugueses, a sua passagem pelo poder será igualmente inglória e efémera, deixando o Partido Socialista em muitos maus lençóis. Até porque a direita já terá tido tempo para entretanto renascer a sua anunciada fénix, que não será outro que rui rio, um caudilho perigoso pelos tiques autoritários de que deu sobejamente provas na Câmara do Porto e com habilidade superior à de passos coelho.
Estamos num mero exercício académico para perspetivar uma possível evolução do país. Certo é que estas lideranças pífias à esquerda e à direita irão desaparecer em notas de rodapé da História portuguesa do século XX. E será então que, perante um rui rio, caberá à esquerda encontrar uma liderança forte e determinada como só José Sócrates poderá garantir.
Como anteontem aqui concluía, atrás de tempos, tempos vêm...
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