No editorial do «Nouvel Observateur» do derradeiro dia de janeiro, Laurent Joffrin coloca a possibilidade das classes dirigentes, francesas no caso que aborda, mas implicitamente europeias no seu todo, de se acomodarem secretamente ao desemprego.
Lembrando um célebre desabafo de Mitterrand na televisão (O desemprego? Tentámos tudo!) , o diretor da prestigiada revista francesa comenta que esse mal favorece todos os medos e extremismos, ao mesmo tempo que poupa a maioria da classe dirigente. Os altos funcionários escapam a ele por estatuto, os políticos aprovam para-quedas cuidadosamente preparados, os dirigentes económicos negoceiam pacotes dourados para acautelarem o futuro. E quanto aos respetivos filhos, estão protegidos por uma rede de relações, que lhes dá enorme vantagem se não contarem igualmente com um património acumulado durante anos a fio.
A verdade é que os governantes de boa vontade, de direita ou de esquerda, estão circunscritos numa terapia imutável preconizada por economistas ortodoxos que, até agora, em nada aliviaram a doença. Esses economistas que cumprem a célebre divisa inventada pelos anglo-saxões: Always wrong, never in doubt.
O FMI, o templo mais reverenciado de tal gente, ainda há pouco reconheceu ter subestimado o impacto recessivo da austeridade. O que não o impede de manter - sempre com a mesma arrogância - as habituais prescrições que condicionam a vida de milhões de pessoas: austeridade, deflação e reformas estruturais.
Os governos lembram o ébrio que perdeu a chave numa rua escura e a procura junto ao único candeeiro, por não se ver nada em redor. Assim se comportam os dirigentes europeus, sempre sob esse estreito halo da ortodoxia, quando são possíveis outras soluções.
Para Joffrin está fora de hipótese falhar ao reembolso da dívida soberana, mas não a este ritmo draconiano. Muitos empregos serão salvaguardados se, mesmo contrariando a vontade da banca, se estender tal reembolso por um período maior. Porque, como avisam Stiglitz e Krugman, a recessão ligada a esta austeridade só poderá agravar-se.
E, será necessário, por dogmatismo e para salvaguardar os interesses dos banqueiros e dos depositantes, mas não dos desempregados, manter um euro forte?
Mas, sobretudo, a verdadeira solução para a crise atual passa por reduzir as desigualdades, porque não representam apenas uma injustiça. A desigualdade reduz o índice de crescimento. O rendimento dos pobres é gasto até ao último cêntimo, enquanto a maior parte do dos ricos é investido no imobiliário ou nos mercados financeiros, que formam um enorme bolo especulativo. Aceitar a desigualdade é estagnar a procura e reduzir a atividade económica. Contrariamente ao dogma liberal, a redistribuição não é um problema, mas a solução. Pelo menos para os desempregados.
Sem comentários:
Enviar um comentário