O deserto de Atacama no extremo norte do Chile possui imensas matérias-primas no seu subsolo. A indústria mineira explora o deserto mais árido do planeta, deixando atrás de si um espetáculo desolador.
Durante milénios, os habitantes conseguiram cultivar nessa terra difícil, mas sem água, que as minas captam para satisfazer as suas necessidades colossais, essa atividade parece condenada à extinção a mais ou menos curto prazo.
O documentário de Carolin Reiter mostra as inquietações dos incas dessas aldeias andinas, que se recusam a baixar os braços perante essa ameaça. Vemo-los, por exemplo, num domingo na missa do Padre Pato, cuja igreja constitui ponto de peregrinação dos habitantes da região.
Patrício Cortez é o verdadeiro nome do padre de Ayquina, cuja santa padroeira é a Virgem de Guadalupe, que é venerada em toda a região. Mesmo os que vivem na cidade, a uma hora de distância, deslocam-se de propósito para garantirem a bênção para a respetiva família.
Se essas camponeses abandonaram as suas aldeias no altiplano chileno foi porque se viram privados de água. De facto, já há cerca de vinte anos, que as nascentes foram privatizadas em proveito das poderosas minas da região. Os ribeiros florescentes do passado tornaram-se em modestíssimos fluxos de água. Daí que o Padre Pato não saiba como alimentar a esperança dos seus crentes, limitando-se a incitá-los a lutarem por reverem os contratos em que se sentem enredados e que lhes faculta uma parcela mínima da água de que necessitam.
A água é imprescindível para que a mãe- natureza, Pacha Mama, lhes seja pródiga. Mas agora ela é pertença das poderosas multinacionais. Daí que os camponeses apenas consigam cultivar modestas courelas e alimentar uns quantos lamas.
Os cientistas estão bem conscientes dos perigos latentes para os ecossistemas da região. Por isso mesmo procuram solução na dessalinização da água do oceano ali mesmo ao lado. Mas para os camponeses de Ayquina qualquer solução daí obtida já virá demasiado tarde.
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