O que é que acontece quando, de súbito, todas as recordações do passado ficam apagadas?
«Vergiss mein nicht», o documentário de David Sieveking, que se estreou há uma semana nas salas alemãs, conta a história de Gretel, a mãe do realizador, a quem a demência senil transformou.
Mediante cenas emotivas, temos um processo de consciencialização, que mistura tristeza e alívio. Porque, muitas vezes, também significa, deixar partir.
Foi para dar algum descanso ao pai, que David Sieveking se mudou para a casa deles. Mas bastam-lhe alguns dias para se sentir completamente esgotado. A mãem que sempre fora tão independente, ficou encerrada no casulo do esquecimento. As recordações são uma espécie de ilhas apenas pressentidas no meio do nevoeiro. Ela perdeu não só a história de todo o seu passado, mas também quem são os que a rodeiam. Confunde o filho com o marido, este com um estranho, e muitas vezes nem sequer sabe quem são um e o outro.
David Sieveking investiga, então, o passado da mãe: descobre assim a história de uma rebelde envolvida nos movimentos revolucionários de 1968, vigiada pelos serviços secretos, e também o seu papel de apresentadora num programa de televisão.
A presença da equipa de rodagem do filme em sua casa tem um efeito revigorante na paciente. Subitamente ganha iniciativa e recupera uma certa alegria em viver. A demência abana a família ao mesmo tempo que a reconfigura de uma forma diferente. As relações perdem os enquadramentos anteriores, mas ganham em inocência e em doçura.
Acaba por constituir uma história comovedora e estimulante sobre a família, o esquecimento e as despedidas àquela que foi mãe, sogra, avó e esposa.
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