domingo, 17 de fevereiro de 2013

DOCUMENTÁRIO: «Crimes na corte dos Médici» de Judith Voelker e Alexander Hogh (2012)



No século XVI os Médici influenciaram todas as cortes europeias graças a uma hábil política matrimonial. Enquanto Catarina de Médicis casa com Henrique II, futuro rei de França, Cosme I torna-se grão duque de Florença em 1537. Mas os filhos deste último constituem uma fratria sedenta de poder, que se irá perder em querelas impiedosas.
A cripta da Igreja de San Lorenzo acolhe quarenta e nove túmulos da família, alguns dos quais anónimos. Pergunta-se: quem seriam esses Médicis caídos no esquecimento ou cuja memória foi apagada dos registos familiares?
Graças aos métodos da polícia de investigação temos historiadores e bioarqueólogos a reconstituirem a movimentada existência desses banidos da memória.
Três dos filhos de Cosme I marcaram a História. A filha preferida, Isabel, era poliglota, música e mecenas, usufruindo de uma liberdade incomum na época. Que era malvista pelos irmãos: Francisco, o mais velho, que iria suceder ao pai, e Ferdinando, o mais novo, nomeado cardeal.
Aquando da morte de Cosme, em 1574, o estilo de vida de Isabel muda do dia para a noite. E quando morre em 1576, cai no esquecimento ao mesmo tempo que desaparece o seu cadáver.
Acidente ou crime urdido por um marido ciumento e/ou por um irmão invejoso? Permitirão a análise do ADN e a reconstituição facial de um dos corpos anónimos da cripta responder a tal questão? Embora não muito convincentes, os cientistas envolvidos acreditam na bondade das suas teorias a respeito da morte violenta, por enforcamento, da culta princesa caída em desgraça.
Por essa altura já Francisco I reina de forma absoluta. Em 1578, Joana de Áustria, que ele casara a contragosto para selar a aliança dos Médicis com os Habsburgo, morre no parto do oitavo filho do casal. Arriscando o escândalo, ele casa então com a amante, a veneziana Bianca Capello, que lhe dera um bastardo com pretensões de vir a suceder ao progenitor.
Em 1587 Francisco e Bianca morrem com algumas horas de intervalo, permitindo a sucessão ao ambicioso Ferdinando, que abandona as vestes eclesiásticas e se torna no grão-duque da Toscânia. Séculos depois desses acontecimentos, a autópsia ao que resta dos cadáveres de Francisco e de Bianca permite desmentir a tese oficial de malária e concluir pelo lento envenenamento com arsénico.
Temos, assim, uma série histórica em dois episódios, que privilegia a vertente policial, sem constituir grande contributo para compreender a época em causa. Nomeadamente as condições de vida em que o povo sobrevivia e tentava assumir algum protagonismo no desenvolvimento dos acontecimentos, que os condicionava com mais ou menos impostos.
Ora já Brecht lembrava em célebre poema, quanto a verdadeira História não é a dos reis, mas a dos que construíram os monumentos e produziram a riqueza. Mas essa é empreitada para outro tipo de ambição e outra faixa de espectadores, que não quantos se interessam sobretudo pelas estórias de alcova e por conspirações aristocráticas.



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