O aumento do desemprego em Portugal tem muito a ver com a destruição sistemática da economia, promovida por este (des)governo apaixonado pelas exigências da austeridade a qualquer preço.
Mas, porque convirá olharmos para a realidade muito para além do que ela se deixa entrever a curta distância, convirá estar atento às lutas sociais, que se desenham nos países mais desenvolvidos na Europa, reveladoras das tendências para que evoluem as práticas do capitalismo e as formas de as combater.
Em França, o governo Ayrault julgou conquistar a paz social mediante o acordo obtido na concertação social a 11 de janeiro entre o grande patronato e algumas das confederações sindicais (embora sem nelas se contar a influente CGT), mas a realidade está a sobrepor-se a essa expetativa já que as greves e manifestações contra os despedimentos em grandes empresas (Peugeot, Goodyear, Virgin, etc.) ganham progressiva expressão e dão novo significado às esperanças alimentadas com a vitória presidencial de François Hollande.
Essas lutas ganham ainda maior legitimidade, quanto é um facto comprovar-se, em muitos casos, de se tratarem de «despedimentos bolsistas». E o que significa esta expressão? São despedimentos a ocorrerem em empresas aonde os balanços contabilísticos comprovam lucros de muitos milhões de euros nos anos recentes, mas que deslocalizam ou fecham fábricas, porque os tais endeusados mercados reagem sempre da mesma maneira às notícias de possíveis despedimentos: subidas espetaculares em Bolsa, que acrescentam dígitos às fortunas deslocalizadas dos seus acionistas.
Existe, assim, uma guerra evidente entre os gordon gekkos do capital financeiro e quem só pode sobreviver mediante uma economia sustentável no objetivo de criar riqueza e emprego.
Quando o único objetivo se limita a ser o de aumentar o mais obscenamente possível os lucros dos acionistas, ainda que à custa de muito sofrimento infligido a quem apenas acreditou na possibilidade de ganhar honradamente o bastante para alimentar a família, deixou de existir qualquer possibilidade de racionalidade na organização social e económica. E algo de tumultuoso se prefigura para um futuro não muito distante.
É por isso que o debate atualmente em curso dentro da Esquerda portuguesa, seja através do Congresso das Alternativas, seja dentro do Partido Socialista, ganha particular expressão. Porque os tempos anunciam-se turbulentos e convirá saber-lhes cavalgar as tendências.
É que, quem julgar que todos quantos têm sido prejudicados com a guerra declarada do Capital contra quem trabalha, aceitam reduzir-se ao suposto conformismo de sobrevivência dos sem abrigo, engana-se redondamente. Decididamente poucos estarão dispostos a «aguentar»!
E assim, serão esses mesmos gekkos (que aqui se chamam ulrichs, salgados, amorins, belmiros ou santos) a arriscarem-se a deixar o escalpe nas batalhas em que os índios inverteram o curso dos acontecimentos e revelam-se mais prometedoramente fortes do que os cowboys apostados em transformar o mundo num faroeste sem lei! É que, além de mais numerosos começam a dominar o verdadeiro armamento com que se ganham as guerras do futuro: as redes sociais!!! E que estarão na génese dos novos quinze de setembros!!!
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