Quando surgem notícias de novos vírus a espalharem-se em surtos epidémicos, que começam numa área restrita e, depois, se espalham a nível global, fico logo desconfiado. A primeira pergunta, que faço é: qual o laboratório farmacêutico, que criou essa estirpe para a qual já tem preparada a cura, logo comercializada sob a forma de uma nova vacina ou outro tipo de medicamento.
Só para não ir mais longe, como poderemos esquecer a histeria, que se apossou do país há uns quatro ou cinco anos atrás, quando, a pretexto de uma gripe de efeitos terríveis, o governo Sócrates foi obrigado a investir uma fortuna nas vacinas, que depois acabaram em grande parte inutilizadas por excederem o prazo de validade. Sem contar que os líquidos desinfetantes, as máscaras e outros apetrechos, com que se visava evitar possíveis contágios.
É verdade que os laboratórios farmacêuticos internacionais gastam fortunas em investigação, que carece ser reembolsada através dos medicamentos posteriormente comercializados, mas não podemos esquecer a lógica capitalista em que assenta o seu negócio com a previsível pressão dos acionistas para verem maximizados os dividendos dos seus investimentos. Temos então meio caminho andado para se limarem os escrúpulos com que os gestores dos grandes laboratórios possam ter iniciado a sua atividade no ramo.
O filme de Thomas Vincent parte desses pressupostos e insere-se na mesma filiação em que se conta, igualmente, «O Fiel Jardineiro» de Fernando Meirelles, baseado no romance de John le Carré.
Temos, assim, um pequeno madeireiro da região francesa dos Vosges, cujo filho morre num acidente de viação. Mas terá sido efetivamente o efeito de uma condução desastrada ou o resultado dos efeitos secundários de um medicamento, que tomava contra as enxaquecas e ainda em fase de experimentação?
Essa é a dúvida nele inculcada por uma ativista apostada em denunciar os negócios obscuros da indústria farmacêutica, que já terão estado na origem da morte do seu defunto esposo.
Embora passe grande parte do filme a ponderar se ela é credível ou uma mitómana, Raoul acaba por levar até ao desiderato previsível a sua investigação, que tende a confirmar o comportamento criminoso dos líderes dessa indústria. E que melhor local senão Davos, durante a realização da sua cimeira, para matar a tiro aquela que identifica como a responsável pela morte do filho.
Poder-se-á torcer o nariz a demasiadas cenas de ação e a algumas soluções pouco verosímeis no argumento, mas «O Novo Protocolo» não deixa de ser um entretenimento razoavelmente carpinteirado e com abordagem de um tema a que convém dedicar a nossa atenção. Porque se existe campo para uma gangsterização da indústria em causa, será improvável, que ela não se tenha já traduzido em estratégias já há muito implementadas...
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