Para Kusama a pintura é a única alternativa à sua loucura: algo de instintivo e de primitivo, mas bem longe da arte. As suas enormes pinturas (algumas com mais de dez metros de comprimento) valeram-lhe um lugar de direito na corrente vanguardista, embora ela apenas as considere uma espécie de cortinas que a separam das pessoas e da realidade. A sua minuciosa concretização conduzi-la-á, pouco a pouco, a mudar de escala e a virar-se para a criação de ambiências.
Existem vários símbolos a aparecerem com frequência nas obras de Kusama. A ervilha, sua imagem de marca, surgiu-lhe aquando das suas primeiras alucinações e antes de lhe servirem de «ferramenta visual».
Ela vê na ervilha a forma do sol que simboliza o arquétipo feminino da reprodução. O macaroni simboliza o universo feminino (ligado á cozinha) e permite-lhe denunciar a sociedade de consumo em que a alimentação é industrializada. E há o falo, essa verdadeira obsessão de Kusama. Por exemplo Accumulation #1, apresenta um sofá coberto de protuberâncias, que coseu à máquina e encheu de tecidos.
Numerosos outros objetos conhecerão a mesma lógica, frequentemente relacionada com um universo caricaturalmente feminino. A sua obstinação em explicar esse tipo de obra será interpretado como o desejo de submeter o símbolo do opressor, o próprio pai.
A noção de infinito é um fio condutor em toda a obra de Kusama. Os espelhos desmultiplicam o espaço, as ervilhas colonizam o espaço sem limites, as escadas luminosas não têm princípio nem fim.
Kusama combate o mal pelo mal: os gestos minimais, que ela repete sistematicamente nos seus quadros são um remédio para cuidar das obsessões alucinatórias, que a invadem.
O feminismo está presente em toda a sua obra de forma crítica ou simbólica. Os seus happenings dos finais dos anos 60 colocam a mulher no centro da atenção enquanto símbolo da paz e do amor: realiza-os sobretudo entre 1967 e 1972 com a colaboração de bailarinos ou de hippies. As reivindicações eram sociais, libertárias ou pacifistas e eram apresentadas estrategicamente em locais públicos (sobretudo em Nova Iorque). Frequentemente os participantes estavam nus, pintados com ervilhas e distribuíam-se panfletos antes que a polícia chegasse.
Outros happenings, organizados em espaços fechados, e intitulados «Orgias», abordavam a liberdade sexual.
O filme Kusama’s Self-Obliteration, realizado por Jud Yalkut, mostra essas iniciativas. A nudez é a única coisa que nada custa, dizia Kusama. Esse tema é recorrente, quer para abordar a liberdade sexual, quer para denunciar uma sociedade hiperconsumista.
E mostra-a fascinada pela capacidade dos media em fazerem circular rapidamente as suas ideias e imagens. Por isso cuida de garantir a presença da imprensa nesses happenings, consciente da sua importância...
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