Na quarta-feira Bento XVI declarou perante 3500 fiéis que se demitia em prol dos interesses da Igreja Católica, confirmando assim a decisão conhecida na antevéspera de resignar às suas funções papais a partir de 28 de fevereiro.
Tratou-se de uma declaração excecional, por beliscar as tradições da Igreja Católica, e abriu uma enorme expetativa quanto à identidade do seu sucessor numa altura em que a Páscoa já está quase aí à porta.
Por isso mesmo multiplicam-se os debates públicos sobre todas as consequências deste acontecimento histórico, um dos quais suscitou duas reações curiosas por parte dos seus participantes. De facto, no excelente «28 minutes», programa diário transmitido na ARTE, Jean Quatremer , jornalista do Libération teve a honestidade de assumir que, na qualidade de agnóstico, estava-se completamente nas tintas para o tema. E esse é de facto o meu posicionamento sobre o assunto. Bem me importa que o novo papa seja africano, asiático, americano ou europeu, que seja mais ou menos velho e defenda posições trogloditas ou em conformidade com o andar dos tempos.
Como ateu convicto também eu me estou completamente a marimbar para o assunto. Muito embora, uma outra posição expressa no mesmo programa me surja intelectualmente estimulante. Quem a formulou foi o filósofo Michel Eltchaninoff, e consistiu na identificação de uma singular contradição: sendo a mensagem religiosa marcada pelo quanto de irracional corresponde à suposta transcendência, uma decisão tão racionalista contradiz a essência da função em que se verifica. Nesse sentido existe algo de potencialmente revolucionário, que importa acompanhar no futuro. Porque se começamos a dessacralizar as nossas vacas sagradas aonde iremos desembocar? Decerto que num estado civilizacional bastante mais prometedor!!!
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