domingo, 10 de fevereiro de 2013

POLÍTICA: uma vitória de Pirro


Um verdadeiro líder político afirma-se por conseguir ver mais ao longe do que a mais próxima realidade. Significa a compreensão das tendências para que tende a História dos homens e a criação de estratégias para obstar às que tendam a retrair o percurso civilizacional já percorrido e para acelerar as que conduzam a maior justiça e igualdade entre os cidadãos no respeito pela preservação dos ecossistemas em que vivemos.
Agora que a possibilidade de mudar algo de essencial no Partido Socialista foi adiado para o dia da próxima derrota da (falta de) estratégia de António José Seguro, mesmo que passando quase por certo pela vitória nas autárquicas, nas europeias e até nas próximas legislativas, justifica-se atender ao que o Miguel Abrantes escreveu no blogue «Câmara Corporativa»: A alternativa ao processo de empobrecimento acelerado dos portugueses não pode ser a de manter este processo de empobrecimento, fazendo-o muito embora a diesel. Tem necessariamente de ser um outro modelo que preserve o Estado Social. António José Seguro, quando hoje disse que “pelos vistos há ministros do Governo que estão de acordo com as posições do PS”, numa alusão  à manchete do Expresso, foi, no mínimo, pouco feliz. O PS não se pode distinguir do governo mais à direita da democracia apenas por apontar um caminho menos doloroso.
Mas é esse “caminho menos doloroso” o que se pode perspetivar das propostas da atual Direção do Partido Socialista. Numa altura em que a esquerda europeia anda a debater as alternativas para sair deste ciclo de empobrecimento, de austeridade e  de redução do Estado na economia e na sociedade, António José Seguro imita o tal bêbedo que procura as suas perdidas chaves em torno do candeeiro por ser o único sítio aonde se vê alguma coisa à sua volta. De facto, o atual candidato do PS a primeiro-ministro não vislumbra outro caminho, que não seja o de manter as receitas dos gurus defensores do capitalismo neoliberal, acreditando piamente nas virtudes dos mercados e na respetiva capacidade para se autorregular.
O que resultou da reunião da Comissão Nacional do PS não foi uma boa notícia para os socialistas. Tê-lo-á sido para aqueles militantes, que veem a política com os piores defeitos do clubismo e se recusam a ver as consequências do que pressupõe um futuro da oposição ao Governo mediante tal liderança. Tê-lo-á sido para aqueles militantes, que estão cegos e surdos ao que se ouve à nossa volta e se verifica uma clara falta de empatia do eleitorado habitual do partido com a imagem e o tipo de comunicação praticado por António José Seguro. Tê-lo-á sido para aqueles militantes das seções locais, que só perspetivam como objetivo a maximização dos resultados eleitorais nas próximas autárquicas perante adversários de direita e comunistas que, pelo contrário, terão suspirado de alívio por poderem contar doravante com um modelo de Oposição tão desinspirado.
O futuro da esquerda europeia situar-se-á no confronto entre os tradicionais partidos socialistas e as correntes de esquerda que começam a ganhar dimensão um pouco por toda a Europa e não só. As recentes derrotas dos socialistas na Grécia e dos trabalhistas em Israel, aonde se reduziram a dimensões quase grupusculares, demonstram a apetência dos cidadãos por propostas cada vez mais inovadoras na exigência das que são as aspirações de sempre desta área política: maior justiça e igualdade para todos os cidadãos.
Este ciclo em que a direita europeia teve uma supremacia quase total nos governos e instituições comunitárias está na sua fase crepuscular por muito que os media pertencentes aos que a representam e deverão ser combatidos procurem iludi-lo com campanhas maciças de desinformação e manipulação. Nesse sentido a política de esquerda suportada nas redes sociais e nos blogues tenderá a contrariar as estratégias da direita. E os partidos socialistas que não o compreenderem vão acabar mal. Tão pasokizados quanto o estão hoje em dia  os seus congéneres gregos, que já demonstraram o resultado da estranha miopia, que parece desenvolver-se em António José Seguro e nos seus apoiantes.

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