Quem olha para o século passado e analisa o Holocausto enquanto demonstração de uma criminosa experiência de darwinismo social - fundamentada na superioridade da raça ariana e na destruição de outros grupos tidos como inferiores (judeus, ciganos, comunistas, etc), - não tem dúvidas em colocar Hitler e seus cúmplices como monstruosas aberrações do que deveria ser um comportamento humanista.
Embora arriscando o exagero, o que passos coelho e os seus apaniguados andam a fazer em Portugal é algo de semelhante, quer por condenarem milhares de pessoas à mais desprotegida indigência, quer por concentrarem numa reduzida «élite» de catrogas, borges, loureiros e outros tunantes que tais, a posse do esbulho sem escrúpulos praticado sobre a maioria da população.
Ainda não se trata ministrar «ziklon b» aos tais desempregados estruturais, que nunca mais encontrarão emprego, mas também não sentem tal necessidade porque debaixo dos carris dos comboios ou precipitando-se de prédios altos, de pontes ou de ravinas, há centenas de desesperados a libertarem esses momentâneos detentores do poder do incómodo da sua existência.
Nos jornais há quem atribua as políticas deste (des)governo à incompetência, à ignorância ou, mesmo à candura. Mas já não passa despercebida a lógica de seleção natural, que o próprio primeiro-ministro assumiu com total despudor na Assembleia da República. Senão vejamos o texto de Teresa de Sousa ontem inserido no «Público»:
Muita gente avisou que a receita da troika destruiria sectores inteiros da economia, como a construção ou a restauração e o pequeno comércio, atirando para o desemprego milhares de pessoas que dificilmente encontrariam emprego noutros sectores. Mas esse foi um aviso que o Governo sempre ignorou, não por ser autista ou arrogante, mas porque os livros por onde estudaram os seus ministros ou a ideologia que beberam manifestamente em excesso lhes dizia que essa era a parte da economia que deveria ser rapidamente sacrificada.
O destino das pessoas que trabalhavam nesses sectores, geralmente pouco qualificadas, não foi problema que valesse a pena equacionar.
Na sexta-feira, para que não houvesse dúvidas, Passos Coelho explicou, com imensa candura, que já está feita a "selecção natural das empresas que podem melhor sobreviver".
Não mencionou o segundo efeito dessa "selecção natural" que se traduzirá, segundo as contas do FMI, num desemprego estrutural de 14%, ou seja, na "selecção natural" das pessoas de carne e osso cujas qualificações dificilmente lhes permitirão regressar ao mercado de trabalho.’
Estamos, pois, perante uma revolução social de assumido extremismo ideológico. Julgávamos que os polpots viviam apenas no Camboja, mas eles estão a liderar o país com o mesmo «radicalismo purificador». Como escrevia Pedro Marques Lopes no «Diário de Notícias», resolveram testar meia dúzia de princípios ideológicos colados com cuspo e decidiram tornar uma geração praticamente inteira num exército de inúteis, de gente dispensável, de pessoas que não encaixam, que viverão à margem.
Perante o carácter excecional desta tentativa de destruição dos equilíbrios anteriormente existentes entre as diversas classes e subclasses sociais, é caso para ponderar se, operada a reviravolta, não se justifica a criação de uma réplica do Tribunal de Nuremberga para criminalizar e punir exemplarmente esta gente que diariamente anuncia novas formas de roubar o que nos é devido.
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