Lawrence Durrell começara a falar a Arthur Miller do seu novo projeto literário - que redundaria no famoso «Quarteto de Alexandria»! - em 1953. Mas, mesmo já o tendo planeado totalmente na cabeça, levaria três anos a escrever «Justine», o primeiro dos quatro romances da tetralogia, que surgiria em 1957 e lhe começou a garantir o seu definitivo sucesso internacional.
O segundo romance, «Cléa» surgirá em 1959, logo seguido de «Balthazar» e de «Mountolive».
Estas obras constituem uma experiência ambiciosa e única quer na forma, quer no conteúdo, já que elas convergem para um tema comum.
«Justine» é o único a utilizar modelo narrativo clássico, já que os outros três não respeitam qualquer progressão cronológica por serem no dizer do autor as «três dimensões do espaço».
As três primeiras partes (…) não devem ser implantadas espacialmente e não se interligam em episódios. Sobrepõem-se, cruzam-se numa relação puramente espacial. O Tempo pára. Só a quarta parte é que representará o Tempo e constituirá um seguimento da história. «Balthazar» não é a continuação de «Justine», mas seu irmão gémeo. (…) O romance tenta escapar à conceção bergsoniana do Tempo (…) e da durabilidade através da noção de Espaço-Tempo, escreveu Durrell num texto de apoio a «Balthazar».
Durrell não escapa a uma certa grandiloquência e hermetismo, que fundamentarão críticas futuras. A intenção é clara: temos de identificar o velho mundo. É o que quis fazer com esta série de romances… quebrar a personalidade e mostrar-lhe as cdiferentes facetas. Uma personalidade integrada é coisa que não existe. Os meus personagens não existem na realidade, são inventados. Tratam-se de marionetas que vou virando de acordo com ângulos diferentes e sempre sob um mesmo cenário de fundo.
O solipsismo e o narcisismo estão omnipresentes nesta opção antirrealista em jogo de espelhos capaz de multiplicar os pontos de vista, mas também segregando-a de um mundo exterior.
Esta estratégia estará na origem da composição de uma obra caleidoscópica: subentendo o tema da intersubjetividade, da interligação, da relatividade enquanto o artista Darley, simbolicamente isolado numa ilha no momento em que escreve os três romances, garante uma perspetiva suplementar.
A intriga do «Quarteto de Alexandria» congrega diversos temas já presentes nos livros anteriores para, depois, criar uma representação da unidade na desintegração.
Cada um dos volumes constitui um todo, que se reduz à condição de fragmento quando é justaposto a outro fragmento. Assim se impõe a coexistência de verdades diferentes, senão mesmo contraditórias.
Não é que, relativamente ao «Caderno Negro» a inovação seja significativa: mas em vez de teorizar o seu estilo, Durrell concretiza-o...
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