Nas leituras que jornais, blogues e redes sociais nos vão proporcionando, continuam a surgir textos de assinalável interesse para que possamos compreender mais aprofundadamente a situação presente.
Daí que valha a pena começar por uma interessante entrevista facultada por Ricardo Cabral ao «Público» em que, com argumentos incontestáveis, ele explica como é insustentável a trajetória da dívida portuguesa: Bastam pequenos desvios de um ponto percentual na taxa de juro média e de um ponto percentual na taxa de crescimento e a dívida, em percentagem do PIB, cresce, em vez de diminuir.
E o problema não é só a dívida pública, é sobretudo a dívida externa. De facto, o ajustamento externo exigido é muito superior ao ajustamento orçamental: 13,6% do PIB entre 2007/08 e 2017, mais de três vezes a melhoria do saldo orçamental nesse período. Ou seja, o plano da troika é que um país, que nos últimos 236 anos teve somente sete anos com superavits comerciais, se torne num país com um desempenho no sector externo superior à média histórica da Alemanha, numa altura em que vários dos seus principais parceiros comerciais - nomeadamente a Espanha - estão a implementar programas de ajustamento com objetivos idênticos.
Essa entrevista foi tão brilhante que, no «Diário de Notícias», André Macedo retomou-a para situar em que ponto estamos: o ajustamento era inevitável, a herança uma tragédia, mas a recessão está a ser tão profunda que:
1) o desemprego vai a caminho dos 17%;
2) em proporção do PIB, as empresas devem hoje mais do que quando começou a crise;
3) a dívida pública está nos 123% e não está estabilizada;
4) não há crédito e os bancos (em cartel?) continuam a cobrar juros de usura, apesar de o comprarem barato ao BCE.
Em suma: Acreditar que o crescimento surgirá de geração espontânea é não apenas otimista - tem tudo para dar errado.
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