Está este mês na Salle Gémier do Théâtre National de Chaillot uma das peças mais interessantes de quantas se representam atualmente nas salas parisienses, resultante da parceria estabelecida com Denis Podalydès.
A nova peça, «O Homem que se Odeia» foi criada por ele e por Emmanuel Bourdieu, dupla já testada com sucesso na criação de «O Caso Jekyll», representada no mesmo teatro na primavera de 2011.
Temos então um protagonista, que teria podido ensinar filosofia num liceu ou numa universidade. E talvez até o tenha feito!
Mas mais vale acreditar que existe no pensamento do professor Peter Winch uma dimensão que resiste a tal possibilidade. Uma qualquer forma de inadequação fundamental, devida decerto a essa sua incapacidade em nunca falar para nada.
Falar é para esse homem refletido o que há de mais sério no mundo. Quando ele se exprime é, pois, para tocar a verdade, ir ao fundo das coisas. Nada menos do que isso.
Trata-se, pois, de uma espécie de Dom Quixote, que pode suscitar graça, ternura ou ironia.
Para difundir a sua retórica, o professor Winch fundou a Universidade Filosófica Ambulante, que lhe permite deslocar-se enquanto filósofo itinerante, acompanhado da sua amada esposa, Madame Winch, e do seu fiel assistente, Monsieur Bakhamouche. Mas nunca houve quem verdadeiramente reconhecesse essa instituição.
Percorrem, assim, as estradas para chegarem às salas municipais e aos teatros de província, dormindo em pensões baratas. Um trajeto errante entre desentendimentos e incompreensões, com a progressiva demonstração da completa desadaptação desse suposto mestre a um mundo em que não consegue encontrar verdadeiramente lugar.
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